A discussão reuniu representantes do governo federal, da academia e de organizações da sociedade civil para ampliar o olhar sobre cadeias produtivas Abrindo os debates da tarde, desta quinta-feira, 27, do Seminário Internacional Txai Amazônia, o painel “Agricultura Familiar e a Bioeconomia na Amazônia” reuniu especialistas com vivência em diferentes dimensões do desenvolvimento sustentável. Com mediação do economista acreano Dande Tavares, a mesa integrou o eixo temático Organização da Produção e Cadeias Produtivas na Bioeconomia. “Esse é um tema com múltiplas transversalidades”, destacou Dande. “Falar de bioeconomia é também falar de mudanças climáticas, de perda de biodiversidade, de sustentabilidade ambiental, prosperidade econômica e justiça social. E para isso, precisamos integrar perspectivas e territórios”. A proposta do painel foi abordar os desafios e as possibilidades da agricultura familiar como base para cadeias produtivas sustentáveis, promovendo inclusão social, uso inteligente dos recursos naturais e geração de renda com justiça ambiental. Novas perspectivas A mesa foi composta por Patrícia Melo Yamamoto, do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar; Maria Lucimar Souza, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM); e o vice-reitor da Universidade Federal do Acre, professor Josimar Batista Ferreira. Durante sua fala, Dande destacou também a importância das cooperativas que operam com base no agroextrativismo familiar no Acre. “A visão prática e organizada de quem opera no dia a dia com essas cadeias produtivas, assim como a perspectiva trazida para ampliar a profundidade da discussão, são essenciais”, disse. A proposta do seminário é justamente promover esse encontro de saberes que reconheça a complexidade dos territórios amazônicos e a necessidade de soluções integradas. A programação do dia seguiu com outras mesas temáticas, oficinas, rodas de conversa e uma mostra de iniciativas sustentáveis que ilustram como a bioeconomia pode se materializar no chão da floresta.
Mulheres da Amazônia mostram força e protagonismo na construção da bioeconomia no Txai Amazônia
Painel destaca experiências de liderança feminina em comunidades indígenas e espaços de decisão pública Com olhares atentos, o painel “O Gênero e a Preservação do Meio Ambiente: O Papel das Mulheres da Amazônia no Desenvolvimento da Bioeconomia” abriu espaço para reconhecer e valorizar o protagonismo feminino na sustentabilidade da floresta, nesta quinta-feira (26), no Txai Amazônia. Mediado pela professora Andrea Alechandre, da Universidade Federal do Acre (UFAC), o debate reuniu lideranças indígenas, extrativistas e representantes de instituições públicas para refletir sobre a força das mulheres na agricultura familiar. “A liderança feminina em cooperativas, associações, iniciativas sustentáveis e na política pública precisa ser visibilizada como motor real da bioeconomia na Amazônia”, afirmou Andrea, ao iniciar o painel. Doutoranda em Produção Vegetal, com mais de 30 anos de atuação junto a comunidades tradicionais, a mediadora conduziu o debate destacando dados que reforçam a presença ativa das mulheres nos sistemas produtivos da floresta: segundo o IBGE, quase 20% dos estabelecimentos agropecuários da região Norte são chefiados por mulheres, especialmente na agricultura familiar. Vozes Femininas Com vozes e trajetórias diversas, as painelistas Xiu Shanenawa, Leide Aquino, Márdhia El-Shawwa Pereira e Júlia Yawanawá compartilharam experiências de luta, organização e transformação dos territórios a partir da atuação feminina. Xiu, liderança do povo Shanenawa, destacou a multiplicidade de frentes em que as mulheres indígenas atuam: da saúde ao empreendedorismo, da articulação política à valorização cultural. Já Leide, moradora da Reserva Extrativista Chico Mendes, reforçou o papel da mulher extrativista na defesa dos modos de vida tradicionais e na construção de cadeias produtivas sustentáveis. Durante a conversa, foram citados ainda projetos como o da Terra Indígena do Xingu, no Mato Grosso, onde mais de 200 mulheres indígenas atuam na comercialização de sementes nativas. O painel integra a programação do segundo dia do Seminário Internacional Txai Amazônia, que segue com exposições culturais, rodas de conversa, oficinas e mostra de experiências bem-sucedidas da sociobiodiversidade.
Bioeconomia e sociobiodiversidade: empresas amazônicas são destaque no uso de produtos da floresta
O desenvolvimento econômico e a bioeconomia são pontos focais de empresas amazônicas apresentadas como cases de sucesso no segundo dia de programação do Txai Amazônia, nesta quinta-feira, 26, no eAmazônia, localizado na Universidade Federal do Acre (Ufac), em Rio Branco, no Acre. O evento, que acontece até sábado, 28, reúne diversas empresas que atuam dentro da sociobiodiversidade, com produtos da Floresta Amazônica, como a Amazonly Cosmetics, apresentada por José Cláudio Balducci. José Cláudio, natural do Amapá, explica que a Amazonly Cosmetics é uma indústria de extração de óleos e manteigas vegetais, com viés em pesquisa, desenvolvimento e inovação. “Nosso trabalho é com os extrativistas. Estamos falando de comunidades ribeirinhas, quilombolas, indígenas, comunidades tradicionais do estado do Amapá, trazendo essas matérias-primas e insumos para dentro da empresa, produzindo, fazendo a extração e filtração desses óleos”, explica. José Cláudio ressalta, ainda, que a empresa foca na questão da rastreabilidade e na origem dessas sementes, bem como nas certificações, como a orgânica, visto que os produtos da Amazonly Cosmetics são 100% puros e naturais. Pronatus A empresa Pronatus do Amazonas Beleza e Cosméticos, que trabalha com ingredientes da sociobiodiversidade há 39 anos, também foi destaque de sucesso, apresentada pelo farmacêutico Evandro da Silva. “Minha empresa foi construída em função da minha parte técnica. Meu sonho, desde a faculdade, era montar uma empresa que tivesse uma visão amazônica, utilizando a biodiversidade”, explica. Evandro destaca, ainda, que a empresa é fundamentada em cosmético popular, com diferencial para o uso de ingredientes amazônicos. “As propriedades medicinais da flora amazônica, através de outro tipo de cosmético, considerado cosmético funcional, conhecido como cosmecêutico. Embora não exista essa figura na Anvisa, há uma tendência mundial. Nós aproveitamos essa linha de trabalho para fazer xampus, sabonetes, óleos de massagem e outros produtos”, afirma. Mato Grosso e Roraima O extrativismo também está presente no Projeto Mam Gap, do Mato Grosso, apresentado por Alexandre Zoró, que representa a Associação do Povo Indígena Zoró (Apiz). A iniciativa fortalece a identidade cultural e a autonomia do povo. “Atuamos dentro da bioeconomia com a parte do extrativismo, principalmente pela produção de castanha-do-Brasil”, explica. Em Boa Vista (RR), a Daval Alimentos Amazônicos se destaca pela produção de pimentas e geleias com ingredientes da floresta, a partir da agricultura familiar, utilizando produtos como pimentas diversas, tucumã, pupunha, manga e mel, apresentada pela representante Valdeniza Bezerra. Os casos de sucesso são destaque no Txai Amazônia, que apresentam empresas da região que apostam na bioeconomia e sociobiodiversidade para o desenvolvimento econômico dos estados amazônicos.
Extrativismo sustentável é caminho para economia inclusiva e valorização da floresta, aponta pesquisador da Embrapa
Eufran Amaral defendeu que o extrativismo, quando fortalecido com base nos saberes tradicionais, pode ser um motor estratégico de desenvolvimento econômico. O pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Acre), Eufran Amaral, mediou o painel “Extrativismo Sustentável e os Impactos para a Economia da Amazônia”, nesta quinta-feira, 27, durante o segundo dia do Seminário Internacional do Txai Amazônia. “Metade do território do Acre está em áreas protegidas. Isso não é apenas uma questão ambiental, mas também social. Nessa floresta moram pessoas que têm cultura, têm forma de vida peculiar e dependem diretamente dela para viver”, afirmou. Eufran chamou atenção para o paradoxo que marca a realidade amazônica: comunidades ricas em biodiversidade, saberes e possibilidades produtivas, mas que ainda enfrentam sérias dificuldades econômicas, sociais e territoriais. “A gente tem uma imensa riqueza e, muitas vezes, situações de qualidade de vida ainda precárias”, observou. Segundo ele, é urgente transformar esse cenário com políticas públicas que promovam inclusão produtiva e valorizem os sistemas tradicionais de uso da terra. A mediação de Eufran também trouxe reflexões sobre o papel das novas gerações na continuidade e reinvenção do extrativismo. Em meio à chegada de tecnologias de gestão e comunicação, jovens indígenas e extrativistas buscam formas de se reconhecer e de inovar dentro de suas culturas, muitas vezes tensionando modelos tradicionais. “A gente vive um encontro de gerações. Novos indígenas, nova geração extrativista, em diálogo com novas tecnologias. Como inserir isso sem perder a essência das práticas tradicionais?”, provocou. O pesquisador reforçou que é preciso olhar para o extrativismo como uma estratégia de futuro para a Amazônia, e não apenas como herança do passado. “Cada reserva extrativista tem um jeito de se viver. Cada povo tem seu próprio modelo de desenvolvimento. O que buscamos é um modelo de conservação que seja culturalmente inclusivo e ambientalmente íntegro, que garanta futuro para quem vive na floresta”, defendeu. Equilíbrio para o Desenvolvimento Entre os temas orientadores da mesa, Eufran propôs debates sobre a integração entre conhecimentos tradicionais e inovação tecnológica, os instrumentos de fomento que podem ampliar as cadeias do extrativismo, e o papel da inserção de produtos da sociobiodiversidade no mercado global. Para ele, o desafio é encontrar equilíbrio entre valorização econômica e proteção dos ecossistemas. “A internacionalização pode ser positiva, desde que não se perca o controle sobre o território nem se enfraqueçam os modos de vida que sustentam a floresta”, disse. Além do painel sobre extrativismo, o segundo dia do Txai Amazônia contou com apresentações culturais, mostra de produtos da floresta e encontros entre lideranças comunitárias, pesquisadores e o ministro das Relações Exteriores, Carlos Parkinson. A programação segue até sábado (28), com novas rodas de conversa e experiências que evidenciam a potência da sociobiodiversidade amazônica.
Mostra Cultural Agita Primeiro Dia do Txai Amazônia com Carimbó, Forró e Música Eletrônica
A cultura é um dos grandes pilares do Txai Amazônia, realizado em Rio Branco, entre 25 e 28 de junho, no eAmazônia, localizado na Universidade Federal do Acre (Ufac). Na tarde desta quarta-feira, 25, diversas apresentações culturais agitaram a Mostra Cultural. Durante a tarde, a artista Camila Cabeça apresentou a aula-espetáculo “Carimbó para o despertar do corpo”. Ao final da tarde, a DJ Cau Bartholo animou o público. Após a DJ, a apresentação de Dito Bruzugu, com Forró no Balde, tomou conta do palco e fez o público dançar. Dito Bruzugu, cantor do Acre, conta que foi convidado para participar do evento e garantiu muita dança com o Forró no Balde. “Nós trouxemos um pouco dessa coisa tradicional das raízes, que rolavam os forrós do seringal. Essa é a nossa proposta com o Forró no Balde: trazer uma coisa mais tradicional, mesmo da nossa ancestralidade, da música. Estou bem empolgado aqui com os seminários, tratando de assuntos urgentes, que, como alguns seminaristas disseram, vêm sendo tratados há muitos anos em outros lugares, mas aqui na Amazônia ainda está engatinhando essas pautas mais urgentes”, conclui. Programação cultural desta quinta-feira Nesta quinta-feira, 26, o espetáculo Afluentes Acreanos abre a programação da mostra, que também conta com vivência com Trz Crew – Graffiti, Música e Spoken Word, mais uma sessão de cinema com o projeto FestCine Originários, espetáculo de dança Performance Corpo Terreiro de Arte, Sunset com DJ e apresentação do grupo Jabuti Bumbá.
Txai Amazônia reúne especialista para discutirem ‘Financiamento em Bioeconomia e Serviços Ambientais’
Diretora de Mudanças Climáticas e Climate Finance da África aborda novos instrumentos financeiros para a economia verde e a floresta em pé. Rio Branco, Acre – A importância de impulsionar a bioeconomia na Amazônia por meio de financiamentos e investimentos foi o tema central do painel “Financiamentos da Bioeconomia”, realizado nesta quarta-feira (25) no Seminário Internacional Txai Amazônia. A especialista Alessandra Peres, diretora de Mudanças do Clima e Climate Finance para América Latina, Amazônia e África, mediou a discussão, que contou com a participação de renomados painelistas e destacou a urgência de fortalecer a economia verde na região. Com 27 anos de experiência em projetos de desenvolvimento sustentável na América Latina, Amazônia e África, Alessandra Peres enfatizou a necessidade de ampliar o acesso a financiamentos, investir em infraestrutura e promover a inclusão digital e produtiva das comunidades amazônicas. “O que fazer e como fazer, a gente já tem. O que falta é o financiamento”, afirmou, resumindo o principal desafio. A discussão no painel reforçou que, embora o conhecimento e as iniciativas existam, a carência de recursos financeiros adequados impede o pleno desenvolvimento. Desafios e oportunidades de financiamento O painel trouxe uma análise aprofundada dos “Instrumentos Financeiros para Bioeconomia e Serviços Ambientais: Oportunidade Pública e Internacional”. A ementa da discussão sublinhou a necessidade de identificar e otimizar as estruturas de apoio financeiro e de investimentos públicos para a bioeconomia amazônica. O objetivo é alavancar ações que estruturem cadeias produtivas, arranjos produtivos locais e negócios essenciais para uma transição econômica sustentável. Atualmente, existem diversas fontes de recursos, incluindo fundos constitucionais e bancos públicos como BNDES, Banco da Amazônia, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. Instituições como a Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM) e a SUFRAMA também gerenciam volumes significativos de investimentos. No entanto, a falta de coordenação entre esses investimentos é um obstáculo significativo, dificultando o acesso e a aplicação efetiva dos recursos. O debate ressaltou a importância de atores-chave atuarem na organização desses fundos e na criação de estratégias claras para sua aplicação. Além disso, foi destacado que muitos produtores e comunidades locais enfrentam barreiras como a falta de conhecimento técnico e apoio na elaboração de propostas. A capacitação e o suporte técnico são cruciais para que os recursos cheguem a quem realmente precisa e saiba como utilizá-los de forma eficaz. Cooperação internacional e o papel dos parceiros O painel também abordou o papel vital da cooperação internacional e dos bancos multilaterais no apoio à bioeconomia. Instituições como o Banco Mundial possuem linhas de apoio que podem beneficiar tanto o setor público quanto a iniciativa privada, exigindo uma articulação mais efetiva entre esses atores e os governos locais. Os painelistas incluíram Octavio Carrasquilla, da Direção de Assistência Técnica em Biodiversidade e Mudança Climática; Juliana Salles Almeida, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), e Deyse Gomes de Oliveira, do Banco do Brasil. A discussão explorou tópicos como o panorama dos instrumentos financeiros disponíveis, a coordenação dos fundos, os critérios de acesso, a capacitação técnica, a adequação dos critérios à realidade amazônica e as oportunidades para os setores público e privado. Alessandra Peres reforçou o convite para a COP30, destacando a importância de continuar o diálogo sobre financiamento da Amazônia em fóruns globais. O Seminário Internacional Txai Amazônia segue com sua programação até sábado (28), promovendo conexões e debates essenciais entre tradição, inovação e políticas públicas para garantir a floresta em pé.
‘Entender a importância do agro para a nossa sobrevivência’, destaca palestrante em painel sobre agricultura e bioeconomia no Txai Amazônia
Painel fechou a programação do primeiro dia de Txai Amazônia O Seminário Internacional Txai Amazônia encerrou a programação do primeiro dia, nesta quarta-feira (25), com o painel “Bioeconomia e Agro: o quanto o Agro pode ser Bioeconomia e o quanto a Bioeconomia pode ser Agro”, mediado pelo médico veterinário, Edivan Maciel, atual secretário adjunto de Agricultura do Acre. “Precisamos discutir a junção da bioeconomia com o Agro e entender a importância do Agro para a nossa sobrevivência”, declarou o gestor. O painel discutiu as intersecções entre o setor agropecuário e a bioeconomia, abordando como ambos podem se complementar e colaborar para um modelo produtivo mais sustentável. A mesa abordou áreas de convergência entre os dois campos, bem como instrumentos financeiros, práticas sustentáveis e oportunidades de inovação. A proposta era apresentar como o agro e bioeconomia não são visões em conflito, mas caminhos que podem coexistir de forma sinérgica, beneficiando a produção de riqueza e a preservação ambiental. Também participaram da discussão: Marcelo Shama Carbono Arquiteto de ecossistemas regenerativos. Nexialista com profundo conhecimento de ESG e integração com IOT e IA. Forte articulação com empresas, fundos, governos e ONGs; Alfredo Homma, pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental e professor da Universidade do Estado do Pará, agrônomo, doutorado em economia agrícola; George Paulus, PhD engenheiro de produção pela Escola Politécnica da USP, mestre e doutor em Logística e Educação com Jogos e Judson Valentim , Doutor em Agronomia, pesquisador sênior da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA). Outras atrações A programação do Seminário Internacional Txai Amazônia segue até o próximo sábado, 28, proporcionando conexões entre tradição, inovação e políticas públicas para a floresta em pé. Além dos painéis e debates, o público que circular pelo espaço do eAmazônia, situado na Universidade Federal do Acre (Ufac), também poderá desfrutar de uma ampla Mostra Artística Cultural da Bioeconomia, que reúne artistas das mais diversas áreas, experiências gastronômicas e feira de empreendimentos da sociodiversidade. Expositores de toda a Amazônia Legal estão expondo seus produtos no Txai Amazônia, contando a sua história e prospectando negócios. A feira também reúne mais de 20 empreendimentos acreanos da bioeconomia. O espaço foi estilizado especialmente para o evento.
Txai Amazônia: Ministro das Relações Exteriores propõe rota peruana como estratégia de exportação para o Acre
No segundo dia do Seminário Internacional Txai Amazônia, em Rio Branco, nesta quinta-feira, 26, o ministro das Relações Exteriores, Carlos Parkinson, apresentou uma proposta estratégica para impulsionar a exportação de produtos da sociobiodiversidade amazônica. A iniciativa visa utilizar o Peru como uma rota principal para o mercado internacional, especialmente o asiático. Parkinson enfatizou a necessidade de apoiar o Acre na exportação, aproveitando o novo corredor logístico que está sendo estruturado com o Peru, mencionando o Porto de Chancay. “Eu vim ao Acre para conhecer melhor o estado e ajudar. Há uma necessidade clara de apoiar vocês na exportação, especialmente aproveitando o novo corredor logístico que estamos estruturando com o Peru”, afirmou o ministro. O chanceler destacou a importância de fortalecer a presença do estado nas rotas de exportação, com foco na conexão com o mercado asiático. Essa proposta se alinha ao esforço do Itamaraty em descentralizar investimentos e oportunidades, que tradicionalmente se concentram no Centro-Oeste. “O meu objetivo aqui é abrir as portas para que vocês comecem a exportar para fora, particularmente usando o Peru como uma plataforma para chegar ao mercado asiático”, explicou. Novas rotas econômicas A ideia central é posicionar o Acre como um elo estratégico entre a floresta amazônica e mercados internacionais, criando caminhos logísticos para produtores locais com potencial de exportação. Segundo o ministro, essa articulação internacional só será possível com o envolvimento direto dos empreendedores locais: “É necessário que o Estado do Acre se aproxime do Ministério das Relações Exteriores, particularmente da minha pessoa, para que a gente possa desenvolver um trabalho e dar continuidade a esse esforço”, disse Parkinson. A iniciativa também reforça o papel estratégico do Acre como polo de articulação entre a Amazônia e países vizinhos, como o Peru. Além das falas institucionais, o segundo dia do seminário contou com painéis sobre ciência e saberes tradicionais, oficinas formativas e uma mostra de experiências sustentáveis de base comunitária. A programação segue até o fim da semana, promovendo conexões entre diferentes atores da bioeconomia amazônica. Na sexta-feira, 27, Carlos participa do painel “Cooperação para o Desenvolvimento da Bioeconomia Pan-Amazônica: Rota de Integração Regional e Internacional”, às 9h. A programação do Txai Amazônia vai até o sábado, 28, e pode ser conferida no site txaiamazonia.com.br. Txai Amazônia Realizado pelo Instituto Sapien – Instituição Científica, Tecnológica e de Inovação (ICT) dedicada à pesquisa e gestão para o desenvolvimento regional –, em colaboração com o Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional (MIDR), o Governo do Estado do Acre, por meio das Secretarias de Estado de Povos Indígenas (SEPI), Planejamento (SEPLAN), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Acre (FAPAC) e mais de 20 instituições acreanas, o Seminário Internacional Txai Amazônia se apresenta como uma plataforma para a formulação de soluções inovadoras, integrando conhecimento técnico-científico, inovação e sabedoria ancestral. Foto: Agência Nexo
Integração de saberes tradicionais na bioeconomia abre programação de painéis do 2° dia do Txai Amazônia
Painel mediado por Terezinha Aparecida Borges Dias aborda a importância dos povos indígenas na conversa econômica O segundo dia (26/06) do Seminário Internacional Txai Amazônia abriu espaço para diálogos profundos sobre os limites da ciência e a potência dos saberes tradicionais. A conversa propõe refletir sobre como o conhecimento técnico-científico e os saberes tradicionais podem caminhar juntos na formação de novas gerações e estratégias produtivas na região. Quem abriu a programação da manhã foi o painel “Integração de saberes: ciência, tradição e qualificação para a bioeconomia amazônica”, mediado pela pesquisadora da Embrapa, Terezinha Aparecida Borges Dias. Ela, que tem mais de três décadas de atuação em territórios indígenas dentro da Embrapa, compartilhou: “Esse painel traz o contexto da ética na relação interétnica. É extremamente importante refletir sobre isso, especialmente para garantir o protagonismo dos povos indígenas sobre seus próprios conhecimentos e os produtos gerados a partir deles”, afirmou. Ética na troca de saberes No painel também estavam presentes Ana Luiza Arraes de Alencar Assis, coordenadora do departamento de Patrimônio Genético (CGen/MMA), e Gersem José dos Santos Luciano, coordenador-geral de Educação Escolar Indígena da Secretaria de Educação (MEC). “No Brasil, isso está relacionado à questão do consentimento prévio e informado, e à repartição justa e equitativa dos benefícios”, disse Terezinha. Terezinha também resgatou momentos marcantes de sua carreira, como a construção do primeiro processo formal de anuência prévia no Brasil, em meio a disputas entre instituições por acesso a recursos genéticos da floresta. Para ela, o respeito às culturas e às formas de obtenção do conhecimento tradicional é inegociável. “A gente vem também nesse contexto dessa reflexão da ética nas relações interétnicas, que passa pela nossa relação com os nossos colegas de trabalho, com as nossas instituições, sejam públicas ou não, que contribuem para a evolução da bioeconomia”, concluiu a painelista. “Por esse caminho do antropocentrismo, a gente tem poucas soluções; precisamos prestar atenção nos povos indígenas”, declarou o painelista Gersem José. Nesta quinta-feira (27), o seminário segue com foco em juventudes, integração de saberes e tecnologias sociais, ampliando os horizontes para uma Amazônia que pensa e decide sua existência.
Tradição e inovação: empreendedores da Amazônia expõem riqueza da sociobiodiversidade no Acre
Com objetivo de fomentar a economia regional, o Txai Amazônia promove, durante a programação gratuita do evento, uma feira com empreendedores que trabalham em conexão com a bioeconomia. O seminário acontece até sábado, 28, no eAmazônia, na Universidade Federal do Acre (Ufac). Um espaço foi dedicado aos empreendedores que trabalham com biojoias, óleos essenciais, marchetaria, produtos de látex, cestarias, capim dourado e artesanato indígena. Um dos destaques da sociobiodiversidade em Epitaciolândia, interior do Acre, é o José Rodrigues de Araújo, conhecido como Doutor da Borracha, artesão de produtos de látex, um dos principais produtos da história do estado, material retirado da seringueira. Na feira, a marca, criada em 2004, é representada pela Lene Campos, esposa do artesão, que destaca a importância de comercializar os produtos no Txai Amazônia e apresentar para quem não conhece. “Para nós é gratificante apresentar o nosso trabalho para fora do país, como tem muitos de outros países aqui, e de outros estados. É muito importante e está sendo bem aceito os nossos produtos”, explica. Para o evento, há sapatos, pulseiras, colares, brincos, chaveiros e anéis de látex para comercialização. Além da borracha, outro destaque são os artesanatos indígenas, dos povos Shanenawa e Huni Kuin, por meio da loja Rautí. Com os saberes ancestrais, o empreendimento comercializa brincos, braceletes, anéis, tornozeleiras e outros acessórios. Jessica Shanenawa explica que a loja possui artesanato de mais de quatro famílias que não possuem condições de vender os produtos fora das suas terras. “Eles passam os acessórios para que nós possamos vender para eles. Nestes quatro dias estamos no Txai Amazônia e consideramos importante. Nós desenvolvemos e ganhamos nosso dinheiro com produtos feitos à mão, artesanal, com sementes e penas de pássaros”, ressalta. Além dos acessórios, o empreendimento também traz a pintura indígena, com jenipapo, que tem ganhado destaque entre os visitantes. De Tocantins, a Casa Dourada é um dos empreendimentos da feira. Eliene Bispo, presidente da Associação Dianopolina de Artesãos (ADA), coordena a loja. “A Casa Dourada surgiu por meio de uma parceria entre a Secretaria de Cultura e a Prefeitura de Dianópolis, diante da necessidade de um ponto turístico e do reconhecimento ao artesanato de Capim Dourado. Seu propósito é dar visibilidade ao artesanato e promover a integração da sociedade”, fala sobre a caminhada do grupo até aqui. A ADA surgiu com o objetivo de fortalecer a tradição local e gerar renda por meio do artesanato. O capim dourado, planta típica do Cerrado, é trabalhado com técnicas sustentáveis, respeitando o ciclo natural de colheita e com licença ambiental regularizada. Os integrantes produzem biojoias, peças decorativas e acessórios que já circularam em eventos estaduais, nacionais e até internacionais.