O debate propôs a integração entre universidades para fortalecer a bioeconomia da floresta O sociólogo e pesquisador da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Acre (FAPAC), Davilson Cunha, mediou o painel “Ciência, Tecnologia e Ancestralidade: Unindo Forças para a Bioeconomia”, nesta sexta-feira, 27, no terceiro dia do Seminário Internacional Txai Amazônia. O debate reuniu especialistas para repensar os papéis da academia, da indústria e das comunidades tradicionais na construção de uma bioeconomia. “Essa já é uma descoberta ancestral. A ciência pode somar, desenvolvendo tecnologias a partir do que já se sabe na floresta. A inovação nasce quando a gente une os dois saberes”, destacou o mediador. Para Davilson, a ciência precisa atuar de forma complementar aos saberes ancestrais, como no caso da resina do sapo-kampô, reconhecida há anos por indígenas como um potente anestésico natural. O painel também trouxe contribuições do indigenista Terri Aquino, referência na defesa dos direitos indígenas e na valorização da floresta como espaço de vida e sabedoria. A CEO da 100% Amazônia, Fernanda Stefani, apontou que produtos da sociobiodiversidade amazônica só alcançam escala global quando respeitam sua origem e identidade. Já Mário Augusto Cardoso, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), chamou atenção para os desafios da política industrial e a necessidade de apoiar startups e tecnologias desenvolvidas no próprio território amazônico. Um dos pontos centrais do debate foi a crítica à hierarquização dos saberes dentro das universidades. “Quem está nos centros de pesquisa muitas vezes se vê como o único detentor do conhecimento, enquanto o saber tradicional é subestimado. Precisamos romper esse muro”, afirmou Davilson. O painel “Ciência, Tecnologia e Ancestralidade: Unindo Forças para a Bioeconomia” compôs o eixo ‘Ciência, Pesquisa, Inovação e os Saberes Tradicionais Amazônicos” do Txai Amazônia. Txai Amazônia Realizado pelo Instituto Sapien – Instituição Científica, Tecnológica e de Inovação (ICT) dedicada à pesquisa e gestão para o desenvolvimento regional –, em colaboração com o Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional (MIDR), o Governo do Estado do Acre, por meio das Secretarias de Estado de Povos Indígenas (SEPI), Planejamento (SEPLAN), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Acre (FAPAC) e mais de 20 instituições acreanas, o Seminário Internacional Txai Amazônia se apresenta como uma plataforma para a formulação de soluções inovadoras, integrando conhecimento técnico-científico, inovação e sabedoria ancestral. Para conferir tudo que rolou no Txai Amazônia, acesse o site: www.txaiamazonia.com.br. Os debates dos painéis temáticos podem ser acompanhados ou reassistidos pelo canal do Instituto Sapien no YouTube. O indigenista Terri Aquino participou do painel (Foto: Agência NEXO)
Emoção, Tradição e Ancestralidade marcam manhã cultural no terceiro dia de Txai Amazônia
A tradição e a história foram os grandes destaques da programação cultural do Txai Amazônia, na manhã desta sexta-feira, 27. O público foi convidado a assistir ao espetáculo “Tonha”, com Catarina Cândida, e a vivenciar uma experiência com o grupo Saiti Munuti Yawanawa. A atriz Catarina Cândida, que abriu as atividades do palco da Mostra Cultural, aponta que o público se manteve próximo a ela durante a apresentação e ressalta o sentimento de interpretar Tonha. “O Txai está com uma equipe técnica muito profissional e dava para sentir o público muito próximo a mim, o que foi um ponto bastante positivo. Foi a peça que eu terminei mais emocionada. Quando eu estava dando a fala final, eu já estava quase em lágrimas. Tinha um grupo de mulheres de Xapuri, que são muito especiais para mim, que vieram me assistir e foi muito emocionante vê-las, mulheres que viveram no seringal, que são as seringueiras. Ver essas mulheres falando sobre identificação, além de outros jovens que contam que lembram dos seus avós e bisavós, é algo que me encoraja muito para a próxima versão”, disse a atriz. Ray Barros, do Seringal Filipinas, em Xapuri, foi uma das mulheres que auxiliou a artista durante a pesquisa para escrever a peça. “Quando a Catarina foi fazer a pesquisa, eu já era como uma indicadora, porque eu conhecia a história. Eu trouxe duas pessoas que fizeram a pesquisa com ela, que são a dona Dadá e a dona Romeu, e a gente pegou algumas peças e montou o cenário”, explica. A professora Ray, filha de seringueiro, conta, ainda, que a apresentação da peça é muito importante, porque essa cultura está sumindo. “Tem pessoas que já não sabem mais o que é paneiro e não conhecem a cultura da cura da mata. O que eu quero dizer é que, se não tiver cuidado, nós estamos indo embora”, afirma. A professora relembra também o processo da pesquisa: “a nostalgia, a dor e as lembranças são fortes. A gente lembra daquela ilusão porque, na verdade, o pessoal do Nordeste foi enganado e já chegava aqui com uma dívida monstruosa e nenhum deles voltou para sua terra”, diz. Além do espetáculo “Tonha”, o público também participou de uma vivência com o povo Yawanawa, com música e dança. O público, animado, dançou de mãos dadas e acompanhou o grupo durante a apresentação. Na tarde desta sexta-feira, 27, o público é convidado a prestigiar o desfile de moda indígena da coleção “Yawa Tari” e o show de Ixã, cantor descoberto pelo DJ Alok.
Uso sábio da terra: a estratégia amazônica contra a crise climática em debate no Txai Amazônia
Líderes Indígenas e Especialistas Propõem Soluções Integradas para a Gestão Territorial e o Enfrentamento dos Desafios Climáticos Rio Branco, Acre – A gestão territorial da Amazônia e o combate à crise climática foram o epicentro de um debate crucial nesta sexta-feira, 27 de junho de 2025, no Seminário Internacional Txai Amazônia. O painel “Uso da Terra com Sabedoria como Base para a Gestão Territorial de Terras Protegidas e Mitigação às Mudanças Climáticas” reuniu vozes de diferentes saberes para discutir como assegurar que o manejo da terra pelas comunidades tradicionais da Amazônia ocorra de forma equilibrada e estratégica. O Brasil, com sua vasta extensão territorial, riqueza natural e diversidade cultural, é uma potência global em biodiversidade e produção agrícola, respondendo por cerca de 30% da soja e 15% da carne bovina do mundo até 2013. No entanto, esse crescimento acelerado trouxe consigo consequências irreversíveis para ecossistemas e paisagens, exacerbando desafios como a desigualdade social, a pobreza e os conflitos ambientais. As mudanças climáticas, que já causam perturbações generalizadas com o aquecimento global de 1,1°C, representam o maior desafio da humanidade na atualidade. A intensificação de eventos climáticos extremos – secas prolongadas, chuvas volumosas e aumento das temperaturas – afeta diretamente a produção de alimentos e matérias-primas, expondo comunidades vulneráveis e limitando sua capacidade de adaptação. Diante desse cenário, a gestão territorial emerge como uma ferramenta estratégica e multiescalar, capaz de impulsionar a resiliência e o desenvolvimento sustentável. Um Painel Multifacetado em Busca de Soluções Sob a mediação de Eufran Ferreira do Amaral, renomado pesquisador da Embrapa Acre com vasta experiência em Agronomia, Solos e Meio Ambiente – e ex-Secretário de Meio Ambiente do Acre e Chefe Geral da Embrapa Acre –, o debate aprofundou-se em políticas públicas, mecanismos de governança e a vital cooperação entre diversos setores sociais. Amaral ressaltou a importância de pensar a gestão territorial como uma construção coletiva: “Como é que a gente pode pensar em uma cooperação entre governo, setor privado, organizações não governamentais e comunidades locais para fortalecer a gestão territorial, garantindo que, de fato, tenhamos ações eficazes de adaptação e mitigação das mudanças climáticas?”. Ele enfatizou a necessidade de políticas e mecanismos que garantam o uso sábio da terra, equilibrando a conservação e o desenvolvimento socioeconômico. Vozes que edificam o debate O painel contou com a participação de especialistas de peso, que trouxeram perspectivas complementares para o diálogo: Dr. Jefferson Fernandes do Nascimento: Coordenador-Geral de Etnodesenvolvimento da FUNAI e ex-Reitor da Universidade Federal de Roraima (UFRR) – o primeiro reitor indígena da instituição. Com sua experiência em Agronomia e Fitopatologia, Dr. Jefferson destacou o papel fundamental das políticas públicas na preservação ambiental. Daniel Iberê: Indígena do povo M’byá Guarani e Doutor em Antropologia Social pela UnB, Daniel reforçou a importância inestimável de respeitar e integrar os saberes ancestrais dos povos originários. Sua atuação como Coordenador de Projetos na Conservation International (CI-Brasil) e conselheiro estadual de Cultura pelo ConCultura evidencia seu compromisso com a valorização da diversidade cultural e a defesa dos direitos indígenas. Dr. Valdinar Ferreira Melo: Professor Titular da Universidade Federal de Roraima e pesquisador do CNPq, Dr. Valdinar, agraciado com o Prêmio Jabuti por coautoria em “Agricultura Conservacionista no Brasil”, apresentou dados e experiências sobre a conservação e manejo adequado do solo em territórios de floresta e savana. Julie Messias e Silva: Diretora Executiva da Aliança Brasil de Soluções Baseadas na Natureza (NBS) e ex-Secretária da Biodiversidade do MMA. Com sua expertise em políticas públicas ambientais e governança climática, Julie enfatizou que a efetividade da bioeconomia e dos mecanismos climáticos depende intrinsecamente da valorização dos modos de vida locais. O papel transformador dos saberes e da cooperação A imensa diversidade cultural amazônica, indissociável de sua riqueza biológica, foi um ponto central. O debate reiterou que os territórios indígenas não devem ser vistos apenas como estoques de carbono, mas como espaços onde projetos de futuro se desenvolvem, e onde os saberes milenares de povos e populações tradicionais oferecem um conhecimento prático e profundo para a manutenção de um modo de vida específico, orientado para a conservação. Para estruturar uma nova economia e fomentar investimentos sustentáveis, o painel sublinhou a necessidade de estratégias que reduzam o desmatamento, ao mesmo tempo em que aumentam a produção de alimentos e insumos de forma sustentável, promovendo o bem-estar social. Isso implica apostar em inovação, ciência, tecnologia, geração de informação e cooperação, especialmente em modelos sustentáveis de produção florestal e agropecuária. A proposta é desenhar e implementar ações que aumentem o grau de governança e gestão de políticas públicas, controle ambiental e instrumentos econômico-financeiros que acelerem a sustentabilidade dos territórios. Desenvolver um sistema de inteligência territorial integrado, com métricas e parâmetros que permitam aos tomadores de decisão identificar riscos e oportunidades para os diversos usos do solo, é fundamental para atrair investimentos e impulsionar o desempenho econômico e a produtividade, fatores-chave na transformação e desenvolvimento do território. A programação do Txai Amazônia segue no sábado a tarde, a partir das 12 horas, com cinema, mostra artística cultural e gastronômica, além debates qualificados sobre bioeconomia e sociodiversidade.
Ministro Carlos Parkinson aborda potencial internacional do Acre para a bioeconomia
O painel reuniu especialistas e autoridades para discutir como a cooperação regional e os investimentos em infraestrutura podem impulsionar os mercados sustentáveis na Amazônia O ministro de carreira diplomática do Ministério Relações Exteriores e coordenador nacional dos Corredores Rodoviários do Ministério das Relações Exteriores, João Carlos Parkinson de Castro, subiu ao palco do Txai Amazônia, nesta sexta-feira, 27, para falar sobre os avanços dos corredores ferroviários entre o Acre e outros países. Ele reforçou a entrega do Corredor Rodoviário Bioceânico até o final de 2026, com a conclusão da ponte de 1.600 metros e da pavimentação do trecho conhecido como Chancay. “Essa é uma oportunidade concreta para que o Acre se conecte com o Pacífico por uma rota pensada para atender às necessidades do setor produtivo e da sociedade local”, disse Parkinson. Conexões Internacionais Parkinson também reforçou que essa infraestrutura deve estar ancorada em um modelo de governança sólido, com múltiplos atores e níveis de participação. “Sem governança, os esforços se diluem. Precisamos de uma instância que envolva governos, setor privado, academia e comunidades locais”, defendeu. Mediado por Marky Brito, diretor de Desenvolvimento Regional da Secretaria de Estado de Planejamento do Acre, o debate destacou a importância de construir um modelo de integração que fortaleça o comércio e a mobilidade na região, mas que também respeite as especificidades ambientais e sociais da Amazônia. “O Brasil não pode pensar sozinho seu plano de bioeconomia. A fronteira amazônica não termina em nosso território. Precisamos de instrumentos eficazes de colaboração internacional para que o desenvolvimento seja, de fato, pan-amazônico”, observou Marky Brito. O painel também discutiu os impactos da presença da China na infraestrutura da região, com destaque para dois projetos estratégicos: o megaporto de Shangai, já em operação, e a proposta da ferrovia Brasil–Peru, que voltou à pauta entre os governos chinês e brasileiro. “O comércio transcontinental e o escoamento para o Pacífico e a Ásia têm potencial para impulsionar a bioeconomia da Amazônia, mas é preciso atenção aos riscos socioambientais e à soberania local. Vivemos isso no Acre todos os dias”, disse Brito. Esforço Coletivo Outro ponto abordado foi a necessidade de repensar as rotas comerciais diante das mudanças climáticas e instabilidades geopolíticas, como as recentes restrições no Canal do Panamá. “O acesso a mercados globais depende de rotas adaptadas à realidade da floresta. Não se trata apenas de exportar, mas de garantir que a bioeconomia chegue com valor aos destinos certos”, reforçou o Marky. O ministro Carlos Pakinson apresentou ainda a proposta de criação de uma secretaria técnica e de um comitê consultivo privado para garantir que as decisões sobre infraestrutura dialoguem com as realidades ambientais e produtivas da região. “Não vejo esse corredor como uma simples via para escoar grãos. O Acre tem uma sensibilidade ambiental e produtiva que exige planejamento específico para os produtos da sociobiodiversidade”, afirmou. Outros Pontos de Vista Complementando a discussão, a pesquisadora Marta Cerqueira Melo destacou que os investimentos na Pan-Amazônia precisam ser guiados por uma lógica própria da região. Já o secretário estadual de Planejamento, Ricardo Brandão, reforçou o papel do Acre como articulador de soluções logísticas sustentáveis na fronteira com o Peru e a Bolívia. Txai Amazônia Realizado pelo Instituto Sapien – Instituição Científica, Tecnológica e de Inovação (ICT) dedicada à pesquisa e gestão para o desenvolvimento regional –, em colaboração com o Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional (MIDR), o Governo do Estado do Acre, por meio das Secretarias de Estado de Povos Indígenas (SEPI), Planejamento (SEPLAN), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Acre (FAPAC) e mais de 20 instituições acreanas, o Seminário Internacional Txai Amazônia se apresenta como uma plataforma para a formulação de soluções inovadoras, integrando conhecimento técnico-científico, inovação e sabedoria ancestral. A programação do Txai Amazônia continua no sábado, 28, à tarde. Para conferir, acesse o site: www.txaiamazonia.com.br. Os debates dos painéis temáticos podem acompanhados ou reassistidos pelo canal do Instituto Sapien youtube.com/@InstitutoSapien.
Saberes da Floresta e Soluções Sustentáveis ganham destaque nos casos de sucesso do Txai Amazônia
Artesanato, Energia Limpa, Bioconstrução e Protagonismo Internacional Marcaram a Tarde do Segundo Dia do Seminário O Seminário Internacional Txai Amazônia reuniu, nesta quinta-feira, 26, histórias inspiradoras de quem transforma a floresta em fonte de renda, cultura e inovação. A programação da tarde de cases de sucesso começou às 14h com dois projetos: a Associação Dianopolina de Artesãos, do Tocantins, e a empresa acreana Manutata, referência no beneficiamento da castanha-da-Amazônia. Representando a associação de mulheres de Dianópolis, Eliene emocionou o público ao compartilhar a trajetória de luta e valorização do artesanato em capim dourado. A iniciativa, que fortalece a autonomia feminina e a preservação do cerrado, chamou atenção pela beleza e originalidade das peças expostas. “A importância de participar do seminário está no reconhecimento de toda a nossa trajetória com a associação, na troca com outros artesãos e na divulgação do nosso artesanato”, afirmou com orgulho. Casos de Sucesso Na sequência, a Manutata apresentou sua experiência como indústria amazônica de impacto socioambiental, conectando comunidades extrativistas a mercados nacionais e internacionais. Com foco na castanha-da-Amazônia, a empresa aposta em tecnologia e valorização da floresta em pé como modelo de negócio sustentável e replicável em outros territórios amazônicos. Já às 16h, foi a vez da Bambuzini Escola de Bioconstrução e do projeto Carvão de Açaí encantarem o público com soluções que transformam resíduos e recursos abundantes da floresta em oportunidades econômicas e ambientais. A jovem empreendedora que apresentou a Bambuzini destacou a receptividade do público e o potencial do bambu. “Gostei muito da interação e de ver como ficaram maravilhados com o potencial do bambu, porque é um material renovável, abundante e com inúmeros usos, desde a construção até o mobiliário. Espero que mais pessoas conheçam e se apaixonem, assim como eu”, relatou com entusiasmo. Conexão da Tríplice Fronteira Encerrando o bloco de apresentações, o seminário abriu espaço para o diálogo internacional, com representantes da Bolívia e do Peru compartilhando experiências territoriais de enfrentamento à crise climática e fortalecimento da economia da floresta. A participação da Autoridad Plurinacional de la Madre Tierra (Bolívia) e da Asociación Interétnica de Desarrollo de la Selva Peruana trouxe reflexões sobre justiça climática, participação das mulheres e redes de cooperação entre povos indígenas e comunidades locais. “A Bolívia vem fortalecendo as cadeias produtivas dos recursos florestais não madeireiros, como a castanha, o açaí e o majo, que geram renda para milhares de famílias indígenas e camponesas. Nosso objetivo é agregar valor a esses produtos e melhorar a qualidade de vida nas comunidades”, destacou a representante da Autoridad Plurinacional de la Madre Tierra. A representante peruana reforçou a importância de manter os saberes vivos e de unir esforços: “Quando queremos ajudar, nenhum recurso é suficiente sozinho. Por isso, nos juntamos para compartilhar e fortalecer nossos caminhos”, disse. Além dos casos de sucesso, o dia também contou com exposições de produtos da sociobiodiversidade, painéis temáticos e apresentações culturais, conectando tradição, inovação e futuro na Amazônia viva que queremos construir.
FestCine Originários exibe produções sobre vivência na floresta em programação do Txai Amazônia
O Txai Amazônia é um seminário internacional de bioeconomia e sociobiodiversidade que tem como objetivo discutir o desenvolvimento econômico por meio de políticas públicas. Como parte da programação, o FestCine Originários promove a exibição de produções audiovisuais feitas no Acre. Nesta quinta-feira, 26 de junho, seis produções acreanas foram exibidas a partir das 12h, no auditório do eAmazônia, onde acontece o Txai Amazônia. Os filmes relatam a vivência na floresta, com maior destaque para os indígenas. O FestCine Originários exibe produções durante todos os dias de programação do Txai Amazônia, que se estende até este sábado, 28 de junho. A inscrição para o evento é gratuita para todos os públicos.
Natura Ekos apresenta case no Txai Amazônia: ‘Fortalecendo comunidades tradicionais e mantendo a floresta em pé’
Experiência apresentada no Txai Amazônia destaca integração de saberes, com atuação em diversos países da Pan-Amazônia. A Natura Ekos apresentou um modelo concreto de cadeia produtiva sustentável, que há mais de duas décadas conecta comunidades tradicionais à geração de renda por meio do uso responsável da sociobiodiversidade amazônica. Essa experiência foi destacada no segundo dia do Txai Amazônia, nesta quinta-feira, 26. Representada por Mauro Corrêa da Costa e Diego Viégas, a empresa compartilhou sua trajetória de atuação junto a povos extrativistas em áreas de alta relevância ecológica e cultural. “Estamos há 25 anos nessa jornada de muitos aprendizados, erros e acertos, mas sempre com humildade e respeito à diversidade ambiental e cultural”, destacou Mauro, gerente sênior de Suprimentos da Sociobiodiversidade da empresa. A iniciativa surgiu com o propósito de integrar o conhecimento tradicional ao planejamento estratégico de suprimentos, criando um sistema de relações comerciais de longo prazo e respeitoso com as particularidades ambientais e sociais da região. Segundo ele, lidar com itens de safra em territórios diversos da Pan-Amazônia – como Brasil, Colômbia, Peru e Equador – exige planejamento logístico apurado e sensibilidade às realidades locais. O desafio é garantir o abastecimento contínuo, sem renunciar aos ciclos naturais dos produtos e das decisões comunitárias. “É uma obra de arte extremamente complexa, e só com o tempo fomos aprendendo a definir as melhores estratégias para lidar com isso”, afirmou. Estruturação de Possibilidades A estruturação dessa cadeia sustentável inclui pesquisa aplicada, governança compartilhada e acordos que promovem o comércio justo. Comunidades extrativistas recebem apoio técnico, são envolvidas no planejamento e fortalecem sua autonomia econômica sem recorrer ao desmatamento. A programação segue até sábado, com debates sobre bioeconomia indígena, financiamento climático e justiça ambiental.
Teatro, Grafite e Música: Mostra Une Artistas e Fazedores de Cultura do Acre no Txai Amazônia
O Txai Amazônia, evento que acontece no eAmazônia, localizado na Universidade Federal do Acre (Ufac), e se estende até este sábado, 28 de junho, reúne artistas e fazedores de cultura em um palco. Na manhã desta quinta-feira, 26 de junho, o teatro ficou por conta do Grupo Candeeiro, com a peça “Afluentes Acreanas”, vencedora do Prêmio Arcanjo de Cultura. Em seguida, o coletivo TRZ Crew realizou uma vivência com grafite, música e poesia. Para JR TRZ, fundador do TRZ Crew, a proposta do Txai Amazônia tem forte ligação com a atuação do coletivo. “Nós trouxemos um pouco do nosso universo, que é o grafite, poesia e música. Tudo isso está dentro dos nossos elementos e queríamos trazer um pouco disso para a galera curtir e passar essa mensagem tão forte que a nossa cultura traz”, explica. JR TRZ destaca, ainda, que o trabalho do coletivo não é apenas artístico: “ele é de protesto, de busca por melhorias e revolução, principalmente para o que a gente está debatendo aqui, que é o nosso futuro. Estamos muito felizes de estar aqui. O Instituto Sapien está nos acelerando para o ano que vem e estar nesse ambiente nos torna mais forte”, ressalta. Durante a tarde, o público pôde vivenciar a performance “Corpo Terreiro”, da artista Joy Ramos, às 15h. No final do dia, a DJ Cau Bartholo promoveu mais uma experiência com músicas da Amazônia. Às 18h, o tradicional grupo Jabuti Bumbá se apresentou com mistura de música, dança e teatro com mensagens de preservação e resistência.
Bioeconomia em destaque: empresas mostram força da sociobiodiversidade no Txai Amazônia
A bioeconomia e a sociobiodiversidade são pilares de diversas empresas na Amazônia, com foco no extrativismo e no desenvolvimento econômico. Na manhã desta sexta-feira, 27 de junho, três empresas se destacam como casos de sucesso desse modelo no Txai Amazônia, que acontece no eAmazônia, na Universidade Federal do Acre (Ufac). O professor da Ufac, João Paulo Mastrângelo, apresenta a pesquisa sobre a caracterização do território, economia e população da Amazônia. De acordo com o pesquisador, que coordena a área de economia e política florestal, o estudo apresenta dados de contexto sobre a região amazônica, enfatizando as questões da economia e a situação da população. “O debate é para entender a conjuntura atual, quais são as principais tendências e de que modo a gente pode pensar, para frente, algum tipo de solução para os desafios da região”, explica. O movimento interestadual Quebradeiras de Coco Babaçu, dos estados do Maranhão, Pará, Piauí e Tocantins, voltado para o extrativismo, fala sobre a produção. Roselícia Rodrigues, coordenadora do movimento, destaca que a alimentação e toda a coleta são feitas na natureza. “Nós somos quebradeiras de coco, extrativistas, e vivemos de coletar coco na floresta de Babaçu, com a palmeira-de-babaçu, que chamamos de mãe palmeira. Nós vivemos disso, da bioeconomia e da sociobiodiversidade”, ressalta. Jéstica Gomes e Paulo Oliveira, da Chapada Diamantina, trabalham com um laboratório de óleos essenciais naturais. “Nós fazemos desde a colheita da planta até a destilação. Depois, a gente produz os cosméticos naturais com a base de óleos essenciais também. Nós trabalhamos bastante com óleos essenciais nativos brasileiros e da nossa região, como aroeira, cítricos e com plantas nativas da Bahia, que são pouco conhecidas também”, destaca. Paulo Oliveira, também representante da Essências da Chapada, afirma que a bioeconomia está presente no formato que a empresa trabalha com a comunidade. “Nós temos um pequeno laboratório, mas a gente tenta sempre incluir a comunidade local dentro do nosso projeto”, ressalta. As apresentações são parte da programação do evento, que é gratuito e se estende até sábado, 28.
Agricultura familiar é chave para bioeconomia inclusiva e sustentável na Amazônia, aponta debate no Txai Amazônia
A discussão reuniu representantes do governo federal, da academia e de organizações da sociedade civil para ampliar o olhar sobre cadeias produtivas Abrindo os debates da tarde, desta quinta-feira, 27, do Seminário Internacional Txai Amazônia, o painel “Agricultura Familiar e a Bioeconomia na Amazônia” reuniu especialistas com vivência em diferentes dimensões do desenvolvimento sustentável. Com mediação do economista acreano Dande Tavares, a mesa integrou o eixo temático Organização da Produção e Cadeias Produtivas na Bioeconomia. “Esse é um tema com múltiplas transversalidades”, destacou Dande. “Falar de bioeconomia é também falar de mudanças climáticas, de perda de biodiversidade, de sustentabilidade ambiental, prosperidade econômica e justiça social. E para isso, precisamos integrar perspectivas e territórios”. A proposta do painel foi abordar os desafios e as possibilidades da agricultura familiar como base para cadeias produtivas sustentáveis, promovendo inclusão social, uso inteligente dos recursos naturais e geração de renda com justiça ambiental. Novas perspectivas A mesa foi composta por Patrícia Melo Yamamoto, do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar; Maria Lucimar Souza, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM); e o vice-reitor da Universidade Federal do Acre, professor Josimar Batista Ferreira. Durante sua fala, Dande destacou também a importância das cooperativas que operam com base no agroextrativismo familiar no Acre. “A visão prática e organizada de quem opera no dia a dia com essas cadeias produtivas, assim como a perspectiva trazida para ampliar a profundidade da discussão, são essenciais”, disse. A proposta do seminário é justamente promover esse encontro de saberes que reconheça a complexidade dos territórios amazônicos e a necessidade de soluções integradas. A programação do dia seguiu com outras mesas temáticas, oficinas, rodas de conversa e uma mostra de iniciativas sustentáveis que ilustram como a bioeconomia pode se materializar no chão da floresta.