Eufran Amaral defendeu que o extrativismo, quando fortalecido com base nos saberes tradicionais, pode ser um motor estratégico de desenvolvimento econômico.
O pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Acre), Eufran Amaral, mediou o painel “Extrativismo Sustentável e os Impactos para a Economia da Amazônia”, nesta quinta-feira, 27, durante o segundo dia do Seminário Internacional do Txai Amazônia.
“Metade do território do Acre está em áreas protegidas. Isso não é apenas uma questão ambiental, mas também social. Nessa floresta moram pessoas que têm cultura, têm forma de vida peculiar e dependem diretamente dela para viver”, afirmou.
Eufran chamou atenção para o paradoxo que marca a realidade amazônica: comunidades ricas em biodiversidade, saberes e possibilidades produtivas, mas que ainda enfrentam sérias dificuldades econômicas, sociais e territoriais.
“A gente tem uma imensa riqueza e, muitas vezes, situações de qualidade de vida ainda precárias”, observou. Segundo ele, é urgente transformar esse cenário com políticas públicas que promovam inclusão produtiva e valorizem os sistemas tradicionais de uso da terra.
A mediação de Eufran também trouxe reflexões sobre o papel das novas gerações na continuidade e reinvenção do extrativismo. Em meio à chegada de tecnologias de gestão e comunicação, jovens indígenas e extrativistas buscam formas de se reconhecer e de inovar dentro de suas culturas, muitas vezes tensionando modelos tradicionais.
“A gente vive um encontro de gerações. Novos indígenas, nova geração extrativista, em diálogo com novas tecnologias. Como inserir isso sem perder a essência das práticas tradicionais?”, provocou.
O pesquisador reforçou que é preciso olhar para o extrativismo como uma estratégia de futuro para a Amazônia, e não apenas como herança do passado.
“Cada reserva extrativista tem um jeito de se viver. Cada povo tem seu próprio modelo de desenvolvimento. O que buscamos é um modelo de conservação que seja culturalmente inclusivo e ambientalmente íntegro, que garanta futuro para quem vive na floresta”, defendeu.
Equilíbrio para o Desenvolvimento
Entre os temas orientadores da mesa, Eufran propôs debates sobre a integração entre conhecimentos tradicionais e inovação tecnológica, os instrumentos de fomento que podem ampliar as cadeias do extrativismo, e o papel da inserção de produtos da sociobiodiversidade no mercado global. Para ele, o desafio é encontrar equilíbrio entre valorização econômica e proteção dos ecossistemas.
“A internacionalização pode ser positiva, desde que não se perca o controle sobre o território nem se enfraqueçam os modos de vida que sustentam a floresta”, disse.
Além do painel sobre extrativismo, o segundo dia do Txai Amazônia contou com apresentações culturais, mostra de produtos da floresta e encontros entre lideranças comunitárias, pesquisadores e o ministro das Relações Exteriores, Carlos Parkinson. A programação segue até sábado (28), com novas rodas de conversa e experiências que evidenciam a potência da sociobiodiversidade amazônica.