Uso sábio da terra: a estratégia amazônica contra a crise climática em debate no Txai Amazônia

Líderes Indígenas e Especialistas Propõem Soluções Integradas para a Gestão Territorial e o Enfrentamento dos Desafios Climáticos

Rio Branco, Acre – A gestão territorial da Amazônia e o combate à crise climática foram o epicentro de um debate crucial nesta sexta-feira, 27 de junho de 2025, no Seminário Internacional Txai Amazônia. O painel “Uso da Terra com Sabedoria como Base para a Gestão Territorial de Terras Protegidas e Mitigação às Mudanças Climáticas” reuniu vozes de diferentes saberes para discutir como assegurar que o manejo da terra pelas comunidades tradicionais da Amazônia ocorra de forma equilibrada e estratégica.

O Brasil, com sua vasta extensão territorial, riqueza natural e diversidade cultural, é uma potência global em biodiversidade e produção agrícola, respondendo por cerca de 30% da soja e 15% da carne bovina do mundo até 2013. No entanto, esse crescimento acelerado trouxe consigo consequências irreversíveis para ecossistemas e paisagens, exacerbando desafios como a desigualdade social, a pobreza e os conflitos ambientais.

As mudanças climáticas, que já causam perturbações generalizadas com o aquecimento global de 1,1°C, representam o maior desafio da humanidade na atualidade. A intensificação de eventos climáticos extremos – secas prolongadas, chuvas volumosas e aumento das temperaturas – afeta diretamente a produção de alimentos e matérias-primas, expondo comunidades vulneráveis e limitando sua capacidade de adaptação. Diante desse cenário, a gestão territorial emerge como uma ferramenta estratégica e multiescalar, capaz de impulsionar a resiliência e o desenvolvimento sustentável.

Um Painel Multifacetado em Busca de Soluções

Sob a mediação de Eufran Ferreira do Amaral, renomado pesquisador da Embrapa Acre com vasta experiência em Agronomia, Solos e Meio Ambiente – e ex-Secretário de Meio Ambiente do Acre e Chefe Geral da Embrapa Acre –, o debate aprofundou-se em políticas públicas, mecanismos de governança e a vital cooperação entre diversos setores sociais.

Amaral ressaltou a importância de pensar a gestão territorial como uma construção coletiva: “Como é que a gente pode pensar em uma cooperação entre governo, setor privado, organizações não governamentais e comunidades locais para fortalecer a gestão territorial, garantindo que, de fato, tenhamos ações eficazes de adaptação e mitigação das mudanças climáticas?”. Ele enfatizou a necessidade de políticas e mecanismos que garantam o uso sábio da terra, equilibrando a conservação e o desenvolvimento socioeconômico.

Vozes que edificam o debate

O painel contou com a participação de especialistas de peso, que trouxeram perspectivas complementares para o diálogo:

  • Dr. Jefferson Fernandes do Nascimento: Coordenador-Geral de Etnodesenvolvimento da FUNAI e ex-Reitor da Universidade Federal de Roraima (UFRR) – o primeiro reitor indígena da instituição. Com sua experiência em Agronomia e Fitopatologia, Dr. Jefferson destacou o papel fundamental das políticas públicas na preservação ambiental.
  • Daniel Iberê: Indígena do povo M’byá Guarani e Doutor em Antropologia Social pela UnB, Daniel reforçou a importância inestimável de respeitar e integrar os saberes ancestrais dos povos originários. Sua atuação como Coordenador de Projetos na Conservation International (CI-Brasil) e conselheiro estadual de Cultura pelo ConCultura evidencia seu compromisso com a valorização da diversidade cultural e a defesa dos direitos indígenas.
  • Dr. Valdinar Ferreira Melo: Professor Titular da Universidade Federal de Roraima e pesquisador do CNPq, Dr. Valdinar, agraciado com o Prêmio Jabuti por coautoria em “Agricultura Conservacionista no Brasil”, apresentou dados e experiências sobre a conservação e manejo adequado do solo em territórios de floresta e savana.
  • Julie Messias e Silva: Diretora Executiva da Aliança Brasil de Soluções Baseadas na Natureza (NBS) e ex-Secretária da Biodiversidade do MMA. Com sua expertise em políticas públicas ambientais e governança climática, Julie enfatizou que a efetividade da bioeconomia e dos mecanismos climáticos depende intrinsecamente da valorização dos modos de vida locais.

O papel transformador dos saberes e da cooperação

A imensa diversidade cultural amazônica, indissociável de sua riqueza biológica, foi um ponto central. O debate reiterou que os territórios indígenas não devem ser vistos apenas como estoques de carbono, mas como espaços onde projetos de futuro se desenvolvem, e onde os saberes milenares de povos e populações tradicionais oferecem um conhecimento prático e profundo para a manutenção de um modo de vida específico, orientado para a conservação.

Para estruturar uma nova economia e fomentar investimentos sustentáveis, o painel sublinhou a necessidade de estratégias que reduzam o desmatamento, ao mesmo tempo em que aumentam a produção de alimentos e insumos de forma sustentável, promovendo o bem-estar social. Isso implica apostar em inovação, ciência, tecnologia, geração de informação e cooperação, especialmente em modelos sustentáveis de produção florestal e agropecuária. A proposta é desenhar e implementar ações que aumentem o grau de governança e gestão de políticas públicas, controle ambiental e instrumentos econômico-financeiros que acelerem a sustentabilidade dos territórios.

Desenvolver um sistema de inteligência territorial integrado, com métricas e parâmetros que permitam aos tomadores de decisão identificar riscos e oportunidades para os diversos usos do solo, é fundamental para atrair investimentos e impulsionar o desempenho econômico e a produtividade, fatores-chave na transformação e desenvolvimento do território.

A programação do Txai Amazônia segue no sábado a tarde, a partir das 12 horas, com cinema, mostra artística cultural e gastronômica, além debates qualificados sobre bioeconomia e sociodiversidade.

A Mostra Cultural TXAI AMAZÔNIA, realizada durante os dias do seminário, é um evento vibrante que celebra a diversidade cultural da Amazônia. Com apresentações artísticas, oficinas e exposições, este espaço é dedicado à valorização e preservação das manifestações culturais dos povos amazônicos.

A Amazônia é uma das regiões mais biodiversas e culturalmente ricas do planeta. Este vasto ecossistema desempenha um papel crucial na regulação climática global e na manutenção da biodiversidade. Nosso objetivo é promover o desenvolvimento sustentável, respeitando e valorizando as tradições e o conhecimento dos povos que habitam esta região.

A bioeconomia e a sociobiodiversidade são pilares fundamentais para um desenvolvimento sustentável na Amazônia. Este conceito evolui para incluir não apenas o uso sustentável dos recursos naturais, mas também a valorização das culturas tradicionais e do conhecimento ancestral dos povos da floresta.

O Acre foi escolhido para sediar a 1ª edição do Seminário TXAI devido ao seu compromisso com a conservação ambiental e o desenvolvimento sustentável. Este Estado, rico em biodiversidade e cultura, oferece o cenário perfeito para debatermos e construirmos juntos um futuro sustentável para a Amazônia.