Do grafite à vivência indígena, a Mostra Artística Cultural celebra as múltiplas culturas da Amazônia
O Seminário Internacional txai Amazônia ofereceu uma programação diversificada durante seus quatro dias de evento, realizado no eAmazônia, na Universidade Federal do Acre (Ufac), entre 25 e 28 de junho.
Na Mostra Gastronômica, seis chefs de cozinha acreana apresentaram e comercializaram diversos produtos feitos com ingredientes regionais, unindo sabores, tradição e bioeconomia.
Já a Mostra Artística Cultural de Bioeconomia transformou o palco do Txai Amazônia com 23 apresentações e mais de 160 artistas acreanos envolvidos, incluindo shows, músicas, espetáculos, desfiles, vivências e outras performances.
Dito Bruzugu, cantor do Acre, contou que foi convidado para participar do evento e garantiu muita dança com o Forró no Balde.
“Trouxemos um pouco dessa tradição das raízes, dos forrós que aconteciam no seringal. Essa é a nossa proposta com o Forró no Balde: resgatar algo mais tradicional, da nossa ancestralidade, da música”, afirmou.
O desfile de moda indígena Yawa Tari, que difundiu a roupa yawa (termo na língua do povo Yawanawa), foi um dos grandes destaques da Mostra Cultural. As vestimentas são inspiradas nos “kenes yawa“, pinturas tradicionais do povo Yawanawa, antes feitas na pele e agora aplicadas em tecidos de algodão. Os “kenes” representam aspectos tradicionais e espirituais, transmitidos oralmente entre gerações, e simbolizam figuras da floresta como a cabeça da jiboia (Runua mapu), a jiboia (Runua), a ponta da lança (Paspi), a espinha do peixe tambuatá (Vashu shaka) e a borboleta (Awavena).
Nedina Yawanawa, artesã e ativista pelos direitos indígenas e pelo protagonismo feminino, destaca que a ideia surgiu em 2018. “Desde pequena vivemos e aprendemos a fazer os desenhos. É uma forma de perpetuar e dialogar com a sociedade. Temos essa riqueza de desenhos, que vêm através de histórias. Com as peças, trazemos história e tradição, porque tudo, para nós, tem significado. Tudo que desenhamos são seres da floresta, dessa conexão”, conta.
Eliane Yawanawa explica que as peças são confeccionadas e pintadas manualmente. “A peça tem um valor muito forte, que é o espiritual. Recebemos esses desenhos através da espiritualidade. Assim, vestimos tradições e culturas”, conta. De acordo com Eliane, as peças podem ser encomendadas pelo Instagram @elianeluizayawanawa ou @yawa.tari.
Os espetáculos emocionaram e divertiram o público. A atriz Catarina Cândida, que apresentou o espetáculo “Tonha”, ressaltou o sentimento de interpretar uma personagem que conta a história de muitos acreanos.
“Foi a peça que me deixou mais emocionada. No momento da fala final, eu já estava quase em lágrimas. Havia um grupo de mulheres de Xapuri, muito especiais para mim, que vieram assistir e foi muito emocionante vê-las, mulheres que viveram no seringal, que são as seringueiras. Ver essas mulheres falando sobre identificação, além de outros jovens que relatam se lembrar de seus avós e bisavós, é algo que me encoraja muito para a próxima versão”, destaca.
Além de “Tonha”, o Grupo Candeeiro também se apresentou com a peça “Afluentes Acreanas”, vencedora do Prêmio Arcanjo de Cultura. Na dança, a aula-espetáculo “Carimbó para despertar o corpo”, com a artista Camila Cabeça, a performance “Corpo Terreiro de Arte”, com a artista Joy Ramos, e “Correrias”, com X.
Nas vivências, o público participou, cantou, dançou e se divertiu com o coletivo TRZ Crew, que apresentou grafite, música e poesia. Com os indígenas Huni Kuin, Yawanawa e o grupo Shane Yawa Saity, os presentes também vivenciaram uma imersão na dança e música dos povos originários.
Para JR TRZ, fundador do TRZ Crew, a proposta do Txai Amazônia tem forte ligação com a atuação do coletivo. “Trouxemos um pouco do nosso universo, que é o grafite, poesia e música. Tudo isso faz parte dos nossos elementos e queríamos compartilhar um pouco disso para a galera curtir e passar essa mensagem tão forte que a nossa cultura traz”, explica.
Os shows também reuniram grande público com os artistas Ixã, cantor descoberto pelo DJ Alok, e Maya Dourado, que apresentou o show “Salve Essa Terra”. Além disso, a DJ Cau Bartholo participou todos os dias com um sunset com músicas da Amazônia. Cau tem 23 anos de carreira e é conhecida por sua abordagem única de remixar músicas da floresta.
“Foi uma honra enorme, porque sou artista da terra, toco há 23 anos e estou aqui representando a parte da música eletrônica. Estou muito feliz, foram quatro dias de muito som, de afro house com brasilidades e com as minhas músicas para as pessoas conhecerem. Foi um saldo positivo total. Vida longa ao Txai!”, disse.
O FestCine Originários também fez parte da programação durante os quatro dias de evento, com exibição de curtas-metragens, longas-metragens e documentários sobre vivências na floresta, com destaque para os povos indígenas.
Sobre o Txai Amazônia
O Txai Amazônia contou com a participação de representantes dos nove estados da Amazônia Legal, além de comitivas do Peru e Bolívia. Durante os quatro dias de evento, foram apresentados sete eixos temáticos em 15 painéis.