A passarela do Seminário Internacional Txai Amazônia foi palco de um momento marcante de ancestralidade, arte e afirmação cultural. No terceiro dia do evento, realizado no espaço e_Amazônia da Universidade Federal do Acre (UFAC), o público acompanhou o desfile da coleção Yawa Tari, criação das irmãs Nedina e Eliane Yawanawa, que encantou os presentes ao traduzir em moda os saberes e espiritualidades do povo Yawanawa.
“Yawa Tari”, que significa “roupa Yawa” na língua Yawanawa, nasceu da vontade de perpetuar os grafismos sagrados e os saberes espirituais do povo por meio da moda contemporânea. As peças são confeccionadas em algodão e pintadas manualmente, trazendo à tona os kenes yawa — desenhos tradicionais antes aplicados sobre a pele e agora transpostos para o tecido.
Cada grafismo carrega um significado simbólico e profundo, representando elementos da floresta como a cabeça da jiboia (Runua mapu), a ponta da lança (Paspi), a espinha do peixe tambuatá (Vashu shaka) e a borboleta (Awavena). Transmitidos oralmente entre gerações, esses desenhos expressam a relação espiritual do povo Yawanawa com o território e a natureza.
As irmãs criadoras explicam que o projeto une tradição, espiritualidade e protagonismo feminino. Desde a infância, Nedina e Eliane aprenderam os significados dos kenes e transformaram esse conhecimento em arte vestível, que expressa histórias, identidades e resistências.
A apresentação integrou a Mostra Artística Cultural do Txai Amazônia, que valorizou as expressões artísticas e culturais dos povos da floresta. O desfile simbolizou o encontro entre o sagrado e o contemporâneo, reafirmando que a moda indígena é também um instrumento de resistência, visibilidade e reconexão com as origens.

Foto: Agência Nexo