A passarela do Seminário Internacional Txai Amazônia foi ocupada por um momento potente de ancestralidade, arte e afirmação cultural. No terceiro dia do evento, realizado em junho no espaço e_Amazônia da Universidade Federal do Acre (UFAC), o público acompanhou o desfile da coleção “Yawa Tari”, uma criação das irmãs Nedina Yawanawa e Eliane Yawanawa, que encantou os presentes ao apresentar vestimentas inspiradas nas tradições do povo Yawanawa.
“Yawa Tari”, que em yawanawá significa “roupa Yawa”, nasceu da intenção de perpetuar os saberes espirituais e os desenhos sagrados do povo por meio da moda. As peças, confeccionadas com algodão e pintadas manualmente, foram criadas a partir dos “kenes yawa” — grafismos tradicionais que antes eram desenhados sobre a pele e agora ganham forma em tecidos que vestem memória, identidade e espiritualidade.
Cada desenho carrega um significado profundo, representando elementos da floresta como a cabeça da jiboia (Runua mapu), a ponta da lança (Paspi), a espinha do peixe tambuatá (Vashu shaka) e a borboleta (Awavena). Esses símbolos, transmitidos oralmente entre gerações, são considerados manifestações espirituais que orientam a vida, o corpo e o território.
Fotos: Agência Nexo
“Desde pequena, a gente aprende a fazer esses desenhos. Com as peças, trazemos história e tradição, porque tudo tem significado para nós. Tudo que desenhamos são seres da floresta, é sobre conexão”, contou Nedina Yawanawa, que também atua como artesã e ativista pelos direitos indígenas e pelo protagonismo feminino.
Sua irmã, Eliane, reforçou a dimensão espiritual do trabalho:
“A peça tem um valor muito forte. Recebemos esses desenhos através da espiritualidade. Quando vestimos essas roupas, estamos vestindo tradições e culturas”.
O desfile foi um dos momentos mais simbólicos da Mostra Artística Cultural do seminário, promovendo o encontro entre o sagrado e o contemporâneo, e reafirmando que a moda indígena é também um instrumento de resistência, visibilidade e reconexão com as origens.