O estudo destaca dados essenciais para políticas e projetos que valorizam a floresta e as comunidades locais.
O gerente sênior de performance social da Hydro, Eugênio Pantoja, apresentou sua pesquisa detalhada sobre a bioeconomia e a sociobiodiversidade na Amazônia no último dia do Seminário Internacional Txai Amazônia, sábado, 28 de junho.
“Enfrentamos uma crise de identidade dos povos […] Nesse contexto global, eventos como o Txai Amazônia, que refletem sobre estratégias de bioeconomia para uma região específica, são fundamentais, pois oferecem a oportunidade de discutir soluções para algumas dessas crises”, disse Pantoja.
A iniciativa oferece uma base qualificada para subsidiar decisões estratégicas que promovem o desenvolvimento econômico dos territórios, respeitando os saberes tradicionais e a conservação ambiental.
Desafios e planejamento
Contudo, existem desafios como a falta de infraestrutura e de energia suficiente para o desenvolvimento das regiões, as grandes distâncias e a logística difícil na Amazônia. Além disso, há conflitos socioambientais presentes de diferentes formas, a falta de regularização e segurança fundiária para o desenvolvimento das atividades.
“Esse conjunto de elementos traz desafios para pensarmos a Amazônia como uma região desenvolvedora de negócios e de serviços ambientais, de ativos ambientais, de forma cada vez mais positiva. Ela é uma região extremamente rica, como já sabemos, mas que precisa distribuir melhor os benefícios gerados a partir do desenvolvimento econômico”, continuou.
A pesquisa que ele apresentou ressalta o território amazônico como estratégico não só para a região, mas para a sustentabilidade global e para as populações que aqui vivem.
Olhar global
Segundo Eugênio, o mundo enfrenta crises interligadas que impactam diretamente o uso dos recursos naturais. Conflitos geopolíticos, insegurança alimentar crescente, crise climática, perda da biodiversidade e desafios na governança global trazem reflexos profundos para a Amazônia.
“Essas conexões nos fazem refletir sobre o papel do Brasil no cenário internacional, especialmente em conferências de biodiversidade, clima, desertificação e recursos hídricos. O país tem a chance de liderar uma transição climática justa e sustentável, valorizando sua biodiversidade e diversidade cultural”, explica.
Advogado paraense com ampla trajetória em instituições como IPAM, Governo do Acre, CI-Brasil, GIZ e atualmente gerente sênior da Norsk Hydro Brasil, Pantoja soma experiências em políticas públicas, mercados de carbono, pagamentos por serviços ambientais e fortalecimento de iniciativas locais em territórios como Acre, Pará, Amazonas e Maranhão. Sua atuação articula saberes técnicos com vivência direta junto a povos indígenas, comunidades tradicionais e gestores públicos.
Ele destaca que o Brasil possui dois diferenciais competitivos globais: um deles é a produção de commodities tradicionais como mineração e agronegócio; e o outro, muitas vezes menos discutido, é justamente o potencial da floresta e da sociobiodiversidade para gerar alternativas econômicas inovadoras e sustentáveis.
Contra um olhar colonizado
“Sabemos que, muitas vezes, aqui na Amazônia, existe muito preconceito sobre o que se faz. Ainda há uma visão colonizada que diz que o que é bom vem de fora, como diz aquela música: ‘o que é bom vem de fora’. Mas isso não é verdade. Aqui temos ciência e tecnologia sendo desenvolvidas, além de uma diversidade étnico-cultural que permite inovar em diferentes frentes. Tudo é possível de se desenvolver na Amazônia”, refletiu o advogado.
O estudo apresentado traz um levantamento robusto que conecta ativos da sociobiodiversidade com oportunidades econômicas, apoiando pequenos produtores e projetos inovadores. Essa abordagem cria pontes entre conservação ambiental e desenvolvimento social, contribuindo para modelos próprios de crescimento na Amazônia.
“Cada um pode ter uma definição de bioeconomia, mas é uma bioeconomia associada à nossa realidade. Uma das primeiras reflexões no documento é que o conceito de bioeconomia está em construção, justamente por ser muito recente”, declarou.
A proposta é construir pontes entre os saberes amazônicos e as novas oportunidades para impulsionar uma bioeconomia de verdade, com base na floresta viva e nas pessoas que nela vivem. O Txai Amazônia é mais um passo nessa caminhada coletiva.