Do Cerrado para a Amazônia: conexão entre biomas impulsiona cultura com ancestralidade
O Seminário Internacional Txai Amazônia, promovido entre 25 e 28 de junho no eAmazônia, localizado na Universidade Federal do Acre (Ufac), em Rio Branco, Acre, realizou a Mostra Gastronômica, agregando chefs importantes da culinária acreana.
Com pratos de diversos segmentos, os chefs comercializaram receitas com ingredientes regionais e destacam a importância da bioeconomia para a culinária do estado.
Raiza Guimarães, proprietária do Taquara Bistrô, explica que trabalha com comida 100% regional e acreana, e ressalta a importância da Mostra: “Trabalhamos com tacacá, rabada no tucupi, arroz de pato, pato no tucupi, saltenha de forno de jambu, de frango, empadas e salgados regionais, além de tapioca e baixaria. Estar no Txai Amazônia é uma grande oportunidade para nós, empreendedores da nossa região do Acre. O evento nos trouxe a chance de mostrar a nossa gastronomia não só para o Acre, mas para o Brasil”, destacou.
Lucenilde Quintela, conhecida pelo empreendimento Delícias da Lu, é uma das chefs que participaram da Mostra. “Apresentamos alguns pratos regionais, como pirarucu com tucupi, charuto no tucupi, rabada no tucupi, arroz de tucupi e panelada. Estar no Txai foi de suma importância, pois as pessoas podem conhecer melhor o nosso tempero, a própria carne da nossa região, que é uma carne diferenciada do resto do mundo, e o nosso diferencial”, destaca.
Marcos Torres, chef do Marco’s Gastronomia Brasileira, comercializou no Txai salgados fritos com ingredientes regionais, contando parte de sua história na culinária.
“Tenho um restaurante que fica dentro do Ministério Público, mas no início da minha profissão como chef, comecei a trabalhar com salgados. Criei a saltenha de frango com tucupi e jambu, e depois surgiu o leque de saltenhas. No Txai, fomos convidados para apresentar alguns salgados”, explica.
O chef acredita que a gastronomia acreana está em ascensão. “Ela ainda continua em ascensão, porque há poucos chefs que trabalham com produtos e ingredientes regionais. Se há duas coisas em que o Acre é rico, além da cultura, é a gastronomia”, destaca.
O chef Jaire Cunha, do JB Grill, em parceria com a Jupará, levou uma das paixões dos acreanos: espetinhos. No Txai Amazônia, o embaixador da gastronomia no Acre apresenta um espeto de pirarucu com banana-da-terra, vinagrete de banana com emulsão de cupuaçu e, por cima, uma maionese de cupuaçu. “É importante expor o que temos de melhor em nosso estado, que são os nossos produtos locais, e mostrar para as pessoas de fora que somos ricos em produtos amazônicos”, afirma.
A curadora da Mostra Gastronômica, Rafa Brozzo, proprietária do Quentinha Express, enriquece o espaço com degustação de comidas regionais.
“Minha gastronomia está totalmente focada nos elementos da nossa terra. Sempre foi regional, sempre tive essa pegada, desde o início. Realmente trabalho com PANCs [Plantas Alimentícias Não Convencionais] e gosto muito de pesquisar, de ir até as comunidades, de ter essa troca com o produtor e com as comunidades tradicionais”, destaca.
A chef ressalta, ainda, que acredita que a gastronomia é um veículo para alavancar a bioeconomia da Amazônia. “Não tem como falar de turismo sem falar de gastronomia. Hoje as pessoas querem viver a experiência de comer bem, de ir a um bom lugar, de dormir bem. Então, que o nosso estado possa despertar cada vez mais para preparar as comunidades, para preparar os empreendimentos, para mostrar o que temos de melhor. Assim, vamos crescer cada vez mais”, afirma.
Ingredientes regionais
A chef Lourdinha Farias, do segmento de doces, está à frente da Ciranda das Artes e ressalta a importância do uso de ingredientes produzidos na região, por meio da agricultura familiar.
“Trabalhamos com doces regionais, doces finos e tradicionais, além de sobremesas. Estaremos aqui do dia 25 ao dia 28, participando todos os dias, das 10h às 19h, e procuramos trazer um cardápio com apenas ingredientes regionais e, em especial, que fossem também produzidos aqui”, explica.
Lourdinha destaca que o Txai Amazônia promoveu um olhar voltado para as pessoas que produzem esses ingredientes. “Nossos fornecedores são da economia local, da agricultura familiar. Aqui, todo dia é apresentado um doce diferente. Temos os doces que ficam todos os dias, como o croc croc de banana, o croc croc de castanha, que é um doce caramelizado, trufa de cupuaçu, trufa de gel de araçá-boi, além do torrão chinês, que é uma técnica oriental de prensa de açúcar. Pegamos essa técnica e a fizemos com açúcar mascavo e cachaça de jambu, que também é fabricada aqui. Trouxemos também pudim de guaraná, bolo de farinha de tapioca com melado de café produzido na região e outros doces”, afirma.
A chef destaca, ainda, que o Txai traz uma abrangência muito grande quando o assunto é o Acre. “Ele não busca só a questão da economia em si ou da preservação da natureza e do meio ambiente; acho que ele foi muito além, porque trouxe vários setores. Ele trouxe essa praça de alimentação que está aqui, pronta para servir todos os presentes”, destaca.
A empreendedora explica que um dos doces, o Muffin de Caviar, foi desenvolvido com uma iniciativa em que os ovos são 100% recicláveis. “Nós os doamos para um viveiro, onde serão transformados em adubo orgânico, ou seja, voltam para a terra”, conclui.