A passarela do Seminário Internacional Txai Amazônia foi ocupada por um momento potente de ancestralidade, arte e afirmação cultural. No terceiro dia do evento, realizado em junho no espaço e_Amazônia da Universidade Federal do Acre (UFAC), o público acompanhou o desfile da coleção “Yawa Tari”, uma criação das irmãs Nedina Yawanawa e Eliane Yawanawa, que encantou os presentes ao apresentar vestimentas inspiradas nas tradições do povo Yawanawa. “Yawa Tari”, que em yawanawá significa “roupa Yawa”, nasceu da intenção de perpetuar os saberes espirituais e os desenhos sagrados do povo por meio da moda. As peças, confeccionadas com algodão e pintadas manualmente, foram criadas a partir dos “kenes yawa” — grafismos tradicionais que antes eram desenhados sobre a pele e agora ganham forma em tecidos que vestem memória, identidade e espiritualidade. Cada desenho carrega um significado profundo, representando elementos da floresta como a cabeça da jiboia (Runua mapu), a ponta da lança (Paspi), a espinha do peixe tambuatá (Vashu shaka) e a borboleta (Awavena). Esses símbolos, transmitidos oralmente entre gerações, são considerados manifestações espirituais que orientam a vida, o corpo e o território. Fotos: Agência Nexo “Desde pequena, a gente aprende a fazer esses desenhos. Com as peças, trazemos história e tradição, porque tudo tem significado para nós. Tudo que desenhamos são seres da floresta, é sobre conexão”, contou Nedina Yawanawa, que também atua como artesã e ativista pelos direitos indígenas e pelo protagonismo feminino. Sua irmã, Eliane, reforçou a dimensão espiritual do trabalho: “A peça tem um valor muito forte. Recebemos esses desenhos através da espiritualidade. Quando vestimos essas roupas, estamos vestindo tradições e culturas”. O desfile foi um dos momentos mais simbólicos da Mostra Artística Cultural do seminário, promovendo o encontro entre o sagrado e o contemporâneo, e reafirmando que a moda indígena é também um instrumento de resistência, visibilidade e reconexão com as origens. Veja a galeria de fotos.
Txai Amazônia reuniu lideranças e deixou legado estratégico para o desenvolvimento sustentável da região
Evento no Acre marcou a agenda da bioeconomia e da sociobiodiversidade na Amazônia Legal Entre os dias 25 e 28 de junho, o espaço e_Amazônia da Universidade Federal do Acre (UFAC), em Rio Branco, foi palco de uma verdadeira confluência de ideias, experiências e propósitos. O Seminário Internacional Txai Amazônia reuniu lideranças indígenas, representantes de governos, pesquisadores, empreendedores e movimentos sociais em uma jornada intensa de quatro dias dedicada a repensar o desenvolvimento da Amazônia Legal. Promovido pelo Instituto Sapien, em parceria com o Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional (MIDR), o Governo do Estado do Acre, a UFAC e mais de 20 instituições locais, nacionais e internacionais, o evento foi um marco na articulação de soluções para um futuro sustentável, integrando inovação tecnológica e sabedoria ancestral. Um território fértil para novas possibilidades Durante o seminário, os painéis temáticos e os fóruns colaborativos proporcionaram reflexões profundas sobre o papel da bioeconomia e da sociobiodiversidade na construção de alternativas econômicas mais justas, regenerativas e enraizadas nos territórios. Casos de sucesso foram apresentados como exemplos inspiradores de transformação, e os diálogos geraram propostas concretas para o fortalecimento de cadeias produtivas sustentáveis. As discussões também impulsionaram o avanço das bases para um Plano Nacional de Bioeconomia, conectando os nove estados da Amazônia Legal em torno de um objetivo comum: desenvolver a região com protagonismo local, respeito à diversidade cultural e valorização dos saberes da floresta. “O Txai não foi apenas um seminário — foi um espaço de escuta verdadeira, de articulação profunda e de construção coletiva. Saímos de lá com alianças fortalecidas e um senso de urgência renovado”, destacou Lucas Varela, presidente do Instituto Sapien. Cultura viva e encontro de mundos Mais do que debater políticas e estratégias, o Txai Amazônia foi também um espaço de celebração. A Mostra Artística e Cultural transformou o seminário em uma grande vivência amazônida, com apresentações musicais, performances, desfiles, exposições e rodas de conversa conduzidas por artistas e mestres de saberes tradicionais. As atividades culturais aproximaram públicos diversos e reforçaram que o desenvolvimento sustentável da região passa, necessariamente, pelo reconhecimento da cultura como força econômica, política e simbólica. Caminhos que continuam Com o encerramento do seminário, o Instituto Sapien avança agora na sistematização dos resultados, reunindo as propostas em cartas propositivas que sintetizam os principais encaminhamentos do evento. Essas entregas servirão de base para fortalecer as articulações iniciadas, atrair novos investimentos e contribuir diretamente para a formulação de políticas públicas voltadas à bioeconomia e à valorização da sociobiodiversidade na Amazônia Legal. “Txai”, na língua dos povos da floresta, significa irmão, companheiro de jornada. E foi exatamente esse o espírito que atravessou cada conversa, cada abraço e cada projeto que brotou ao longo dos dias de seminário. Fotos: Agência Nexo
Txai Amazônia conclui atividades com plenária e Carta de Proposições para fortalecer a sociobioeconomia
Documento colaborativo com 45 propostas será entregue aos governos como legado do seminário No encerramento do Seminário Internacional Txai Amazônia, no sábado (28 de junho), a plenária final foi marcada pela leitura da Carta de Proposições. O documento, construído de forma colaborativa ao longo dos quatro dias de evento, traduz em suas páginas os principais consensos, reflexões e encaminhamentos surgidos durante os debates. A publicação será entregue formalmente a instituições públicas e parceiras como marco político e síntese do encontro. A CEO do Instituto Sapien, Ana Paula Rocha, idealizadora da metodologia de criação e implementação do Txai Amazônia, ressaltou o caráter participativo do processo: “Vamos sistematizar todo esse material, que será publicado em formato de relatório. Este documento será entregue às autoridades, à equipe que está elaborando o Plano Nacional de Bioeconomia, ao Governo do Acre, aos governos dos estados da Amazônia Legal e às instituições que contribuíram com nosso processo, como o Sistema S e diversos ministérios”, disse. Além dos atos oficiais de entrega, a publicação completa estará disponível no site do Txai Amazônia. O portal reúne ainda os estudos em bioeconomia, o mapeamento de soluções nos nove estados amazônicos e os cases apresentados durante o evento, incluindo o panorama detalhado da bioeconomia no Acre. A proposta é que o site se torne um espaço vivo, constantemente atualizado com novas experiências, dados e conteúdos. Ao longo do seminário, as atividades integraram plenárias, oficinas, exposições e apresentações culturais, promovendo o intercâmbio entre lideranças, pesquisadores e empreendedores de toda a Amazônia. A Carta de Proposições simboliza esse encontro de saberes e reafirma a urgência de fortalecer modelos próprios de desenvolvimento que mantenham a floresta em pé e valorizem os povos que nela vivem. Sobre o Txai Amazônia Durante quatro dias, o Txai Amazônia abordou sete temas em 15 painéis, apresentando 20 casos de sucesso da bioeconomia regional e uma Mostra Artística que integrou povos tradicionais, comunidade acadêmica e autoridades. O seminário foi organizado pelo Instituto Sapien, uma instituição científica, tecnológica e de inovação dedicada à pesquisa e gestão para o desenvolvimento regional, em parceria com o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR), o Governo do Estado do Acre, suas secretarias e 25 instituições locais. Acesse o site do Txai Amazônia (txaiamazonia.com.br) e confira tudo que rolou. Nas redes sociais do @txai.amazonia você acompanha os melhores momentos.
Ciência, cultura e inovação: Txai Amazônia encerra com carta de proposições e mostra força da sociobiodiversidade no Acre
A carta Txai Rio Branco, com propostas sobre a Amazônia, será levada à COP 30, no Pará Rio Branco foi palco de importantes discussões sobre bioeconomia e sociobiodiversidade durante os quatro dias de programação do Seminário Internacional Txai Amazônia, realizado entre 25 e 28 de junho, no espaço do eAmazônia, na Universidade Federal do Acre (Ufac). Durante o evento, o seminário recebeu autoridades, pesquisadores, nomes importantes do setor e um grande público, que participaram dos painéis, além da Mostra Gastronômica e da Mostra Artístico-Cultural, que reuniram seis chefs e mais de 160 artistas, respectivamente. Para Lucas Varela, presidente do Instituto Sapien, o projeto contou com a participação efetiva da sociedade, do governo do Acre, das comunidades e dos indígenas. “A realização foi fantástica. Tivemos painéis muito ricos. Agora, fechamos a plenária final para gerar a Carta de Proposições Txai Rio Branco, um condensado do que foi discutido nesses últimos quatro dias. Além disso, a mostra expositiva de bioeconomia da Amazônia também foi um grande sucesso. Tivemos mais de 20 expositores de todo o estado do Acre, que trouxeram seus produtos extraídos da Amazônia, oriundos da bioeconomia, e tivemos relatos fantásticos de todos”, explica. O presidente do Instituto Sapien explica, ainda, que a Mostra Cultural foi fantástica e revela os próximos passos. “Temos a perspectiva de gerar esses conteúdos. Vamos trabalhar na publicação deles e tratar esse documento como, de fato, uma carta de proposição para o governo e para a sociedade. Vamos tentar levar isso, inclusive, para a COP, que vai acontecer no Brasil no segundo semestre, como uma discussão feita pela Amazônia”, destaca. De acordo com Ana Paula Rocha, criadora da metodologia de implementação e concepção do Txai Amazônia, ver o evento acontecer durante os quatro dias gerou grande inspiração. “Está na primeira edição, e eu sou uma pessoa de criação de projetos. No Instituto Sapien, temos uma metodologia de ideação, desenvolvimento, criação e realização. Passamos por muitas fases até chegar aqui, então é a materialização e a realização. É o projeto acontecendo que nos dá um verdadeiro impulso para continuar e a condição real de visualizar o futuro”, explica. Ana Paula conta, ainda, que antes da realização do evento, ele era um sonho. “Foi muito bom sonhar, porque sonhamos com algumas pessoas, mas, neste momento, estamos realizando e projetando para o futuro com uma proporção dez vezes maior de mentes sonhando conosco”, destaca. “Acredito nesse coletivo, na força da colaboração das pessoas. O tempo de unir pensamentos, vontades e sentimentos em favor do desenvolvimento econômico e humano da Amazônia chegou. Nós, como instituição, ouvimos muitas pessoas e aplicamos metodologias que conduziam uma cadeia de valor. Geramos conteúdo, geramos dados e fizemos pesquisas. O seminário em si culmina neste momento, porém iniciamos esse processo, uma vasta pesquisa sobre o potencial da bioeconomia nos nove estados da Amazônia. Também estamos fazendo uma pesquisa sobre o potencial da bioeconomia e a diversidade da bioconformidade do Acre, e agora nos reunimos aqui. Além da ciência, de uma parte científica, uma parte técnica e uma parte de conhecimentos tradicionais, agregamos também a arte. O Txai uniu muitas pontas, e esperamos que saiam daqui levando a vontade de continuar uma missão”, conclui. O presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Acre (Fapac), Moisés Diniz, neto de Ashaninka, destaca a parceria com o Instituto Sapien e fala do orgulho de ter participado do evento no Acre. “Como neto de Ashaninka, estou orgulhoso de ter participado desse momento no Acre. Temos um instituto que veio de fora do Acre, que não é daqui, e que fez um trabalho de excelência, conseguindo reunir todos os atores possíveis vinculados à bioeconomia e à sociobiodiversidade para discutir esse futuro que começa a partir daqui e que existirá depois em mais estados da Amazônia”, destaca. O presidente da Fapac ressalta, ainda, a atuação do governo do Estado. “O papel do governo do Acre, do governador Gladson Cameli, que colocou todo o governo à disposição, sem interferência política, foi altamente democrático. Acredito que o que estamos aprovando agora na plenária final para criar um caderno do evento vai nos ajudar a discutir ações que agora nascerão a partir do Txai Amazônia”, explica. Além das mostras gastronômicas e artístico-culturais, a feira com empreendedores da região também foi um sucesso. Manoel Gomes, natural de Brasiléia, interior do Acre, proprietário da Flora Jatobá da Amazônia, destaca que o movimento foi muito bom. “Foi muito especial para nós, porque tivemos muitas visitas, pessoas conhecendo nossos produtos, e tivemos também boas vendas. Me surpreendeu e foi maravilhoso. É uma oportunidade que nos foi dada e está sendo uma vitrine para expor nossos produtos”, ressalta. Os produtos da Flora Jatobá da Amazônia são, em maioria, retirados da Reserva Extrativista Chico Mendes, conectando-se à bioeconomia.
Jovens criadores do Acre desenvolvem games com temática amazônica na Game Jam Txai
A programação do Txai Amazônia, que acontece na Universidade Federal do Acre (Ufac) até sábado, 28, é repleta de diversidade, incluindo Mostra Gastronômica, painéis, cultura e até uma game jam. Realizada nos dias 27 e 28, a Game Jam Txai reúne quatro equipes acreanas. A Mapinguari Studio Guerreiros Txai traz “As Aventuras de Chico Natureza”; a Moonlight Games apresenta “Carbon-0”; a equipe Capivárias Sônicas exibe “Kapok”; e o estúdio KGame mostra “Reforest”. Para Olímpio Neto, um dos organizadores da Game Jam Txai, a realização do evento é motivo de felicidade. “Acreditamos muito nessa integração do universo da economia criativa e dos jogos com a bioeconomia e com todos esses outros temas amazônicos. Temos isso muito forte em nosso discurso: essa integração de que a indústria de jogos, a indústria criativa, também faz parte da Amazônia e também faz parte desse processo de preservação, crescimento e enriquecimento da região”, destaca. Olímpio enfatiza que são quatro equipes de cinco pessoas, totalizando 20 participantes. “É fruto de um trabalho grande que temos feito nos últimos anos para aquecer esse mercado e a indústria local. Estamos tendo a alegria de ver pessoas que começaram de maneira muito embrionária em uma game jam e evoluíram seus produtos, participaram de outros eventos, já viajaram conosco para outros lugares, participando de outras feiras. Agora, estamos aqui coroando esse momento. Vemos que o amadurecimento desses estúdios e dos temas está realmente acontecendo”, explica. O organizador ressalta, ainda, que a Game Jam tem como foco principal essa abordagem de temas ambientais para criar uma conexão com todo o conteúdo do Txai.
Com chefs premiados, Txai Amazônia realiza Mostra Gastronômica com culinária regional
Do Cerrado para a Amazônia: conexão entre biomas impulsiona cultura com ancestralidade O Seminário Internacional Txai Amazônia, promovido entre 25 e 28 de junho no eAmazônia, localizado na Universidade Federal do Acre (Ufac), em Rio Branco, Acre, realizou a Mostra Gastronômica, agregando chefs importantes da culinária acreana. Com pratos de diversos segmentos, os chefs comercializaram receitas com ingredientes regionais e destacam a importância da bioeconomia para a culinária do estado. Raiza Guimarães, proprietária do Taquara Bistrô, explica que trabalha com comida 100% regional e acreana, e ressalta a importância da Mostra: “Trabalhamos com tacacá, rabada no tucupi, arroz de pato, pato no tucupi, saltenha de forno de jambu, de frango, empadas e salgados regionais, além de tapioca e baixaria. Estar no Txai Amazônia é uma grande oportunidade para nós, empreendedores da nossa região do Acre. O evento nos trouxe a chance de mostrar a nossa gastronomia não só para o Acre, mas para o Brasil”, destacou. Lucenilde Quintela, conhecida pelo empreendimento Delícias da Lu, é uma das chefs que participaram da Mostra. “Apresentamos alguns pratos regionais, como pirarucu com tucupi, charuto no tucupi, rabada no tucupi, arroz de tucupi e panelada. Estar no Txai foi de suma importância, pois as pessoas podem conhecer melhor o nosso tempero, a própria carne da nossa região, que é uma carne diferenciada do resto do mundo, e o nosso diferencial”, destaca. Marcos Torres, chef do Marco’s Gastronomia Brasileira, comercializou no Txai salgados fritos com ingredientes regionais, contando parte de sua história na culinária. “Tenho um restaurante que fica dentro do Ministério Público, mas no início da minha profissão como chef, comecei a trabalhar com salgados. Criei a saltenha de frango com tucupi e jambu, e depois surgiu o leque de saltenhas. No Txai, fomos convidados para apresentar alguns salgados”, explica. O chef acredita que a gastronomia acreana está em ascensão. “Ela ainda continua em ascensão, porque há poucos chefs que trabalham com produtos e ingredientes regionais. Se há duas coisas em que o Acre é rico, além da cultura, é a gastronomia”, destaca. O chef Jaire Cunha, do JB Grill, em parceria com a Jupará, levou uma das paixões dos acreanos: espetinhos. No Txai Amazônia, o embaixador da gastronomia no Acre apresenta um espeto de pirarucu com banana-da-terra, vinagrete de banana com emulsão de cupuaçu e, por cima, uma maionese de cupuaçu. “É importante expor o que temos de melhor em nosso estado, que são os nossos produtos locais, e mostrar para as pessoas de fora que somos ricos em produtos amazônicos”, afirma. A curadora da Mostra Gastronômica, Rafa Brozzo, proprietária do Quentinha Express, enriquece o espaço com degustação de comidas regionais. “Minha gastronomia está totalmente focada nos elementos da nossa terra. Sempre foi regional, sempre tive essa pegada, desde o início. Realmente trabalho com PANCs [Plantas Alimentícias Não Convencionais] e gosto muito de pesquisar, de ir até as comunidades, de ter essa troca com o produtor e com as comunidades tradicionais”, destaca. A chef ressalta, ainda, que acredita que a gastronomia é um veículo para alavancar a bioeconomia da Amazônia. “Não tem como falar de turismo sem falar de gastronomia. Hoje as pessoas querem viver a experiência de comer bem, de ir a um bom lugar, de dormir bem. Então, que o nosso estado possa despertar cada vez mais para preparar as comunidades, para preparar os empreendimentos, para mostrar o que temos de melhor. Assim, vamos crescer cada vez mais”, afirma. Ingredientes regionais A chef Lourdinha Farias, do segmento de doces, está à frente da Ciranda das Artes e ressalta a importância do uso de ingredientes produzidos na região, por meio da agricultura familiar. “Trabalhamos com doces regionais, doces finos e tradicionais, além de sobremesas. Estaremos aqui do dia 25 ao dia 28, participando todos os dias, das 10h às 19h, e procuramos trazer um cardápio com apenas ingredientes regionais e, em especial, que fossem também produzidos aqui”, explica. Lourdinha destaca que o Txai Amazônia promoveu um olhar voltado para as pessoas que produzem esses ingredientes. “Nossos fornecedores são da economia local, da agricultura familiar. Aqui, todo dia é apresentado um doce diferente. Temos os doces que ficam todos os dias, como o croc croc de banana, o croc croc de castanha, que é um doce caramelizado, trufa de cupuaçu, trufa de gel de araçá-boi, além do torrão chinês, que é uma técnica oriental de prensa de açúcar. Pegamos essa técnica e a fizemos com açúcar mascavo e cachaça de jambu, que também é fabricada aqui. Trouxemos também pudim de guaraná, bolo de farinha de tapioca com melado de café produzido na região e outros doces”, afirma. A chef destaca, ainda, que o Txai traz uma abrangência muito grande quando o assunto é o Acre. “Ele não busca só a questão da economia em si ou da preservação da natureza e do meio ambiente; acho que ele foi muito além, porque trouxe vários setores. Ele trouxe essa praça de alimentação que está aqui, pronta para servir todos os presentes”, destaca. A empreendedora explica que um dos doces, o Muffin de Caviar, foi desenvolvido com uma iniciativa em que os ovos são 100% recicláveis. “Nós os doamos para um viveiro, onde serão transformados em adubo orgânico, ou seja, voltam para a terra”, conclui.
Txai Amazônia: Cultura Amazônica em Espetáculo de Identidade e Ancestralidade
Do grafite à vivência indígena, a Mostra Artística Cultural celebra as múltiplas culturas da Amazônia O Seminário Internacional txai Amazônia ofereceu uma programação diversificada durante seus quatro dias de evento, realizado no eAmazônia, na Universidade Federal do Acre (Ufac), entre 25 e 28 de junho. Na Mostra Gastronômica, seis chefs de cozinha acreana apresentaram e comercializaram diversos produtos feitos com ingredientes regionais, unindo sabores, tradição e bioeconomia. Já a Mostra Artística Cultural de Bioeconomia transformou o palco do Txai Amazônia com 23 apresentações e mais de 160 artistas acreanos envolvidos, incluindo shows, músicas, espetáculos, desfiles, vivências e outras performances. Dito Bruzugu, cantor do Acre, contou que foi convidado para participar do evento e garantiu muita dança com o Forró no Balde. “Trouxemos um pouco dessa tradição das raízes, dos forrós que aconteciam no seringal. Essa é a nossa proposta com o Forró no Balde: resgatar algo mais tradicional, da nossa ancestralidade, da música”, afirmou. O desfile de moda indígena Yawa Tari, que difundiu a roupa yawa (termo na língua do povo Yawanawa), foi um dos grandes destaques da Mostra Cultural. As vestimentas são inspiradas nos “kenes yawa“, pinturas tradicionais do povo Yawanawa, antes feitas na pele e agora aplicadas em tecidos de algodão. Os “kenes” representam aspectos tradicionais e espirituais, transmitidos oralmente entre gerações, e simbolizam figuras da floresta como a cabeça da jiboia (Runua mapu), a jiboia (Runua), a ponta da lança (Paspi), a espinha do peixe tambuatá (Vashu shaka) e a borboleta (Awavena). Nedina Yawanawa, artesã e ativista pelos direitos indígenas e pelo protagonismo feminino, destaca que a ideia surgiu em 2018. “Desde pequena vivemos e aprendemos a fazer os desenhos. É uma forma de perpetuar e dialogar com a sociedade. Temos essa riqueza de desenhos, que vêm através de histórias. Com as peças, trazemos história e tradição, porque tudo, para nós, tem significado. Tudo que desenhamos são seres da floresta, dessa conexão”, conta. Eliane Yawanawa explica que as peças são confeccionadas e pintadas manualmente. “A peça tem um valor muito forte, que é o espiritual. Recebemos esses desenhos através da espiritualidade. Assim, vestimos tradições e culturas”, conta. De acordo com Eliane, as peças podem ser encomendadas pelo Instagram @elianeluizayawanawa ou @yawa.tari. Os espetáculos emocionaram e divertiram o público. A atriz Catarina Cândida, que apresentou o espetáculo “Tonha”, ressaltou o sentimento de interpretar uma personagem que conta a história de muitos acreanos. “Foi a peça que me deixou mais emocionada. No momento da fala final, eu já estava quase em lágrimas. Havia um grupo de mulheres de Xapuri, muito especiais para mim, que vieram assistir e foi muito emocionante vê-las, mulheres que viveram no seringal, que são as seringueiras. Ver essas mulheres falando sobre identificação, além de outros jovens que relatam se lembrar de seus avós e bisavós, é algo que me encoraja muito para a próxima versão”, destaca. Além de “Tonha”, o Grupo Candeeiro também se apresentou com a peça “Afluentes Acreanas”, vencedora do Prêmio Arcanjo de Cultura. Na dança, a aula-espetáculo “Carimbó para despertar o corpo”, com a artista Camila Cabeça, a performance “Corpo Terreiro de Arte”, com a artista Joy Ramos, e “Correrias”, com X. Nas vivências, o público participou, cantou, dançou e se divertiu com o coletivo TRZ Crew, que apresentou grafite, música e poesia. Com os indígenas Huni Kuin, Yawanawa e o grupo Shane Yawa Saity, os presentes também vivenciaram uma imersão na dança e música dos povos originários. Para JR TRZ, fundador do TRZ Crew, a proposta do Txai Amazônia tem forte ligação com a atuação do coletivo. “Trouxemos um pouco do nosso universo, que é o grafite, poesia e música. Tudo isso faz parte dos nossos elementos e queríamos compartilhar um pouco disso para a galera curtir e passar essa mensagem tão forte que a nossa cultura traz”, explica. Os shows também reuniram grande público com os artistas Ixã, cantor descoberto pelo DJ Alok, e Maya Dourado, que apresentou o show “Salve Essa Terra”. Além disso, a DJ Cau Bartholo participou todos os dias com um sunset com músicas da Amazônia. Cau tem 23 anos de carreira e é conhecida por sua abordagem única de remixar músicas da floresta. “Foi uma honra enorme, porque sou artista da terra, toco há 23 anos e estou aqui representando a parte da música eletrônica. Estou muito feliz, foram quatro dias de muito som, de afro house com brasilidades e com as minhas músicas para as pessoas conhecerem. Foi um saldo positivo total. Vida longa ao Txai!”, disse. O FestCine Originários também fez parte da programação durante os quatro dias de evento, com exibição de curtas-metragens, longas-metragens e documentários sobre vivências na floresta, com destaque para os povos indígenas. Sobre o Txai Amazônia O Txai Amazônia contou com a participação de representantes dos nove estados da Amazônia Legal, além de comitivas do Peru e Bolívia. Durante os quatro dias de evento, foram apresentados sete eixos temáticos em 15 painéis.
Eugênio Pantoja revela pesquisa para fortalecer a sociobiodiversidade da Amazônia
O estudo destaca dados essenciais para políticas e projetos que valorizam a floresta e as comunidades locais. O gerente sênior de performance social da Hydro, Eugênio Pantoja, apresentou sua pesquisa detalhada sobre a bioeconomia e a sociobiodiversidade na Amazônia no último dia do Seminário Internacional Txai Amazônia, sábado, 28 de junho. “Enfrentamos uma crise de identidade dos povos […] Nesse contexto global, eventos como o Txai Amazônia, que refletem sobre estratégias de bioeconomia para uma região específica, são fundamentais, pois oferecem a oportunidade de discutir soluções para algumas dessas crises”, disse Pantoja. A iniciativa oferece uma base qualificada para subsidiar decisões estratégicas que promovem o desenvolvimento econômico dos territórios, respeitando os saberes tradicionais e a conservação ambiental. Desafios e planejamento Contudo, existem desafios como a falta de infraestrutura e de energia suficiente para o desenvolvimento das regiões, as grandes distâncias e a logística difícil na Amazônia. Além disso, há conflitos socioambientais presentes de diferentes formas, a falta de regularização e segurança fundiária para o desenvolvimento das atividades. “Esse conjunto de elementos traz desafios para pensarmos a Amazônia como uma região desenvolvedora de negócios e de serviços ambientais, de ativos ambientais, de forma cada vez mais positiva. Ela é uma região extremamente rica, como já sabemos, mas que precisa distribuir melhor os benefícios gerados a partir do desenvolvimento econômico”, continuou. A pesquisa que ele apresentou ressalta o território amazônico como estratégico não só para a região, mas para a sustentabilidade global e para as populações que aqui vivem. Olhar global Segundo Eugênio, o mundo enfrenta crises interligadas que impactam diretamente o uso dos recursos naturais. Conflitos geopolíticos, insegurança alimentar crescente, crise climática, perda da biodiversidade e desafios na governança global trazem reflexos profundos para a Amazônia. “Essas conexões nos fazem refletir sobre o papel do Brasil no cenário internacional, especialmente em conferências de biodiversidade, clima, desertificação e recursos hídricos. O país tem a chance de liderar uma transição climática justa e sustentável, valorizando sua biodiversidade e diversidade cultural”, explica. Advogado paraense com ampla trajetória em instituições como IPAM, Governo do Acre, CI-Brasil, GIZ e atualmente gerente sênior da Norsk Hydro Brasil, Pantoja soma experiências em políticas públicas, mercados de carbono, pagamentos por serviços ambientais e fortalecimento de iniciativas locais em territórios como Acre, Pará, Amazonas e Maranhão. Sua atuação articula saberes técnicos com vivência direta junto a povos indígenas, comunidades tradicionais e gestores públicos. Ele destaca que o Brasil possui dois diferenciais competitivos globais: um deles é a produção de commodities tradicionais como mineração e agronegócio; e o outro, muitas vezes menos discutido, é justamente o potencial da floresta e da sociobiodiversidade para gerar alternativas econômicas inovadoras e sustentáveis. Contra um olhar colonizado “Sabemos que, muitas vezes, aqui na Amazônia, existe muito preconceito sobre o que se faz. Ainda há uma visão colonizada que diz que o que é bom vem de fora, como diz aquela música: ‘o que é bom vem de fora’. Mas isso não é verdade. Aqui temos ciência e tecnologia sendo desenvolvidas, além de uma diversidade étnico-cultural que permite inovar em diferentes frentes. Tudo é possível de se desenvolver na Amazônia”, refletiu o advogado. O estudo apresentado traz um levantamento robusto que conecta ativos da sociobiodiversidade com oportunidades econômicas, apoiando pequenos produtores e projetos inovadores. Essa abordagem cria pontes entre conservação ambiental e desenvolvimento social, contribuindo para modelos próprios de crescimento na Amazônia. “Cada um pode ter uma definição de bioeconomia, mas é uma bioeconomia associada à nossa realidade. Uma das primeiras reflexões no documento é que o conceito de bioeconomia está em construção, justamente por ser muito recente”, declarou. A proposta é construir pontes entre os saberes amazônicos e as novas oportunidades para impulsionar uma bioeconomia de verdade, com base na floresta viva e nas pessoas que nela vivem. O Txai Amazônia é mais um passo nessa caminhada coletiva.
Do Cerrado para a Amazônia: conexão entre biomas impulsiona cultura com ancestralidade
Casa de Cultura Cavaleiro de Jorge promove encontros anuais com indígenas de diversos povos “É um encontro entre diferentes culturas. É uma tradição.” É assim que Juliano Basso, da Casa de Cultura Cavaleiro de Jorge, da Vila de São Jorge — povoado a 35 km de Alto Paraíso (GO), na entrada do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros —, define os eventos realizados na comunidade. A quilômetros de distância de sua comunidade, Juliano participou do Seminário Internacional de Bioeconomia e Sociobiodiversidade Txai Amazônia, em Rio Branco, capital do Acre, entre os dias 25 e 28 de junho. O seminário se consolidou como uma plataforma voltada à formulação de soluções inovadoras, integrando conhecimento técnico-científico, inovação e sabedoria ancestral. Durante o evento, Juliano compartilha as experiências desenvolvidas pela Casa de Cultura. “Há muitos anos promovemos encontros entre diferentes culturas. Por estarmos em uma região central do Brasil, esses encontros se tornaram uma tradição anual. Em 2025, completamos 25 anos do Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros”, afirma. De acordo com Juliano, a primeira parte do evento é a Aldeia Multiétnica, que reúne vários povos indígenas que trazem soluções e vivências, tanto entre si quanto com os não indígenas. “O evento promove a sensibilização e o conhecimento para as diferentes etnias, uns com os outros, nesta interação, mas também com os não indígenas, para que possam reconhecer os povos e saber um pouco mais, devido também à falta de informação que temos durante os processos educacionais no Brasil”, destaca. Conexão com os povos do Acre No Acre, os povos indígenas também promovem festivais nas aldeias. Segundo Juliano, o Acre é um estado com uma população indígena grande, que se destaca pelo empreendedorismo, atividades e cultura no fortalecimento de territórios e de preservação. “Essa ligação é muito forte nesse sentido da participação deles nos eventos, trazendo conhecimento acumulado aqui e trocando com os outros parentes e com as outras pessoas. Todo ano, no mês de julho, promovemos o intercâmbio”, explica. Juliano destaca, ainda, que o diálogo entre biomas – amazônico e cerrado – é importante. “As coisas são todas interligadas, uma depende da outra, então aproximar os dois biomas é muito importante. A ideia é que possamos estreitar laços cada vez mais, principalmente com as associações de base comunitária, desenvolvendo tecnologias sociais e ambientais que esses povos já têm, mas também aproximando e entendendo esses diferentes biomas e os povos tradicionais que habitam neles, além das formas como eles utilizam os recursos naturais sustentavelmente. Essa conexão é muito importante para o futuro”, ressalta. Parceria O coordenador da Aldeia Multiétnica ressalta que parcerias são fundamentais para a execução de projetos, como o Instituto Sapien, que se conecta ao Txai Amazônia. “A ideia é que possamos trabalhar sempre em parceria com o Instituto, que está abrindo trabalhos de diálogos muito importantes, e que possamos, nos próximos anos, fortalecer esse diálogo”, afirma. Questionado sobre a importância do seminário internacional realizado no Acre, Juliano aponta que ele acontece em um momento histórico de “extrema força e originalidade”. “Quando nos encontramos e criamos novas ideias, através do compartilhamento de conhecimentos, as pessoas se encontram empaticamente com outras afins que podem, com certeza, desenvolver novos trabalhos. Trazer financiadores e quem tem os projetos e criar um diálogo entre os diferentes atores da sociedade, com o poder público promovendo um arranjo produtivo, é trazer resultados que vão se acumulando e crescendo com o tempo, fortalecendo a ideia de ancestralidade.”
Saberes Ancestrais no Centro da Bioeconomia: Painel do Txai Amazônia Destaca Protagonismo Indígena
O painel valoriza o papel de comunidades tradicionais como guardiãs da sociobiodiversidade e do desenvolvimento sustentável Rio Branco, Acre – Encerrando as discussões da tarde do terceiro dia do Seminário Internacional Txai Amazônia, realizado na Universidade Federal do Acre (Ufac) nesta sexta-feira, 27 de junho, o painel “Comunidades Tradicionais e a Sua Diversidade Cultural: Saberes, Fazeres e a Bioeconomia” reforçou o protagonismo dos povos da floresta na construção de soluções sustentáveis. A mediação foi conduzida por Nedina Yawanawa, da Secretaria Extraordinária dos Povos Indígenas (SEPI), que abriu o encontro destacando o papel dos saberes e fazeres tradicionais como base para qualquer modelo de desenvolvimento que busque, de fato, respeitar a Amazônia. “Eles fundamentam esse desenvolvimento sustentável. São pilares que precisamos reconhecer não só com palavras, mas com políticas públicas e instrumentos de valorização e proteção cultural”, afirmou Nedina. Olhar Feminino Sobre a Luta O painel contou com a participação de Paka Yawanawa, músico e liderança do povo Yawanawa, que compartilhou a experiência de sua comunidade na preservação dos territórios diante dos desafios contemporâneos. Roselice Rodrigues da Silva, quebradeira de coco e referência nacional no Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu, reforçou como o extrativismo e o cooperativismo das mulheres têm gerado renda. Já Terezinha Aparecida Borges, pesquisadora da Embrapa, destacou o papel da etnociência e da conservação dos recursos genéticos como parte essencial da segurança alimentar dos povos tradicionais. A partir do diálogo entre os convidados, o painel evidenciou que a bioeconomia amazônica só se sustenta com o reconhecimento dos territórios, a proteção dos saberes ancestrais e a criação de caminhos que gerem renda com base na cultura, na floresta e na coletividade. Práticas como o turismo de base comunitária, o artesanato, os produtos da sociobiodiversidade e os serviços ambientais foram citados como estratégias concretas de inclusão e sustentabilidade. O seminário continua no terceiro dia com novos debates sobre políticas públicas e instrumentos de financiamento climático. O encerramento do evento acontece no quarto e último dia, 28 de junho, com uma programação marcada por trocas de experiências, cultura viva e a reafirmação da Amazônia como território de soluções. Txai Amazônia Realizado pelo Instituto Sapien – Instituição Científica, Tecnológica e de Inovação (ICT) dedicada à pesquisa e gestão para o desenvolvimento regional –, em colaboração com o Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional (MIDR), o Governo do Estado do Acre, por meio das Secretarias de Estado de Povos Indígenas (SEPI), Planejamento (SEPLAN), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Acre (FAPAC) e mais de 20 instituições acreanas, o Seminário Internacional Txai Amazônia se apresenta como uma plataforma para a formulação de soluções inovadoras, integrando conhecimento técnico-científico, inovação e sabedoria ancestral. Para conferir tudo que rolou no Txai Amazônia, acesse o site: www.txaiamazonia.com.br. Os debates dos painéis temáticos podem ser acompanhados ou reassistidos pelo canal do Instituto Sapien no YouTube.